Bolsonaro se rende a Pedro Castillo depois de dizer que perdeu o Peru

Dois dias antes de emprestar seu icônico chapéu para Bolsonaro, o presidente do Peru, Pedro Castillo realizou uma reforma ministerial que promoveu um giro à direita em seu governo; entenda

Jair Bolsonaro e Pedro Castillo | Foto: Alan Santos/PR
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) teve um encontro nesta quinta-feira (3) com o presidente do Peru, Pedro Castillo, em Porto Velho. Apesar de a relação entre eles ter começado de forma conturbada, a dupla posou para um foto em que Bolsonaro usa o chapéu de campesino do homólogo peruano, uma marca de Castillo desde as eleições.

Bolsonaro e Castillo discutiram temas de segurança, cooperação nas fronteiras, economia, transporte e defesa. Uma declaração conjunta foi divulgada pelo Itamaraty ao final do encontro. Além dos presidentes, participaram ministros e embaixadores dos dois países.

Depois da conversa, os dois posaram para uma foto descontraída. Nesse momento, Bolsonaro veste o chapéu de Pedro Castillo, uma cena impensável durante as eleições peruanas de 2021.

Em junho, Bolsonaro lamentou o triunfo do professor sindicalista sobre Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, com uma frase que ganhou grande repercussão: "Perdemos o Peru".

O mandatário não compareceu à posse de Castillo e foi representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

O compartilhamento do chapéu de Castillo com Bolsonaro gerou críticas nas redes sociais.

Pedro Castillo faz giro à direita no Peru

Castillo se elegeu com uma plataforma avançada de esquerda que, entre outras coisas, prometia realizar uma Assembleia Constituite para derrubar a Constituição de Fujimori e discutir a nacionalização dos minérios. Os planos iniciais, no entanto, não tem dado certo.

O presidente peruano enfrenta uma enorme instabilidade polícia e não consegue nem mesmo manter seu gabinete de pé. Em pouco mais de 6 meses, já foram 2 reformas ministeriais.

A mais recente, que se deu na terça-feira, foi vista como uma espécie de "giro à direita" de Pedro Castillo e irritou setores mais tradicionais da esquerda peruana. O partido Novo Peru, que se somou ao presidente e possui indicações nos ministérios, cobrou, em nota, que o mandatário retome as pautas que o elegeram.

O novo gabinete ainda precisa de aprovação no Congresso peruano e pode perder votos da esquerda. "Este Gabinete não pode liderar a mudança que o presidente prometeu na campanha. Pessoalmente, não vejo como votar a favor da confiança com este tipo de conformação", disse a deputada Sigrid Bazán, do Novo Peru.

O Novo Peru e outros partidos de esquerda destacaram que as mudanças profundas possuem respaldo popular, segundo pesquisa Celag, ainda que o Parlamento trave qualquer iniciativa mais firme.

Além disso, há muitas críticas à escolha de Hector Valer como primeiro-ministro, tendo em vista que ele foi acusado de violência doméstica contra a ex-esposa e a filha. Essa informação começou a repercutir após a escolha dele como presidente do Conselho de Ministros.