Um episódio absurdo ocorrido no Catar, país que organiza a Copa do Mundo de 2022, mostrou ao mundo a face obscura da nação árabe que constantemente é acusada de violar os direitos humanos. Uma mulher mexicana de 27 anos que trabalhava numa das empresas que organizam a competição denunciou um estupro e agressão ocorridos em seu dormitório em 6 de junho do ano passado. Após levar o caso às autoridades locais, ela viu o agressor, um colombiano que conhecera dias antes, ser inocentado e liberado.
Só que o desfecho ainda mais revoltante estava por vir. Mesmo com o laudo médico provando as pancadas e a violação, o estuprador disse que mantinha uma relação com a vítima, chamada Paola Schietekate, que então foi condenada a sete anos de prisão e a receber 100 chibatadas por ter mantido uma relação extraconjugal, uma vez que na sharia, a lei islâmica, qualquer nível de relação amorosa entre pessoas não casadas é considerado ilegal.
"A Copa do Mundo está prestes a ser realizada no mesmo país onde uma mulher não pode obter a guarda de seus filhos após o divórcio. Sem uma postura firme por parte da comunidade internacional, leis draconianas, retrógradas e até absurdas encontrarão um pequeno buraco para continuar se justificando, à sombra de grandes eventos esportivos ou culturais", protestou a mulher.
Paola teria sido incentivada a levar o caso até as últimas consequências pelo cônsul do México em Doha, Luis Ancona, que para ela desconhecia as leis locais e acabou piorando ainda mais a sua situação e seu sofrimento. Ela só conseguiu sair do Catar e regressar ao seu país natal após o Comitê Organizador da Copa e a entidade internacional Human Rights Watch (HRW) intervirem em seu favor.
Vítima de um outro estupro quando tinha 17 anos, Paola conta que resolveu denunciar o crime porque no caso anterior viu o criminoso sair impune e não queria que isso ocorresse de novo. “Sentia que era minha culpa porque era uma menina, sem a capacidade de raciocinar que o que acabara de viver era uma tentativa de feminicídio. Eu era uma vítima de violência sexual que interioriza, como fazem muitas, a culpa e a vergonha", revelou.
O Ministério de Relações Exteriores do México disse que já entrou em contato com Paola e que seu serviço diplomático determinou ao melhor de seus advogados que defenda a vítima nos trâmites que se seguiram no Catar mesmo após ela deixar o país islâmico e que seus direitos como cidadã mexicana serão preservados e garantidos.