O adágio popular que vem se consagrando nos últimos anos, sobretudo depois da ascensão das figuras mais bizarras, retrógradas e medievais no universo político brasileiro, nunca fez tanto sentido: a Terra plana não gira, ela capota.
Brasileiros bolsonaristas que têm cidadania portuguesa e foram viver no pequeno país europeu resolveram se filiar ao partido de extrema-direita que cresce a cada dia lá pelas terras do além-mar, o “Chega”, liderado pelo radical ultrarreacionário André Ventura, apelidado carinhosamente de “Bolsonaro português”. Só que, como as coisas não andam fáceis pra ninguém, os militantes tupiniquins passaram a ser discriminados e hostilizados por seus "pares ideológicos" do outro lado do Atlântico, ainda que fosse perfeitamente imaginável que uma agremiação de viés nacionalista patológico e com fortes traços fascistas não iria gostar da presença de estrangeiros, muito menos latino-americanos, em suas fileiras.
Recentemente, a filiação ao “Chega” da Cibelli Pinheiro de Almeida, no diretório do partido na cidade de Braga, repercutiu nas redes. Os homens que coordenam a legenda naquela região se recusaram a ter como integrante nos seus quadros uma mulher brasileira. E o caso não foi o único: um filiado “zuca”, como alguns portugueses gostam de se referir aos cidadãos vindos de sua antiga colônia na América, chamado Marcus Santos, andou reclamando de ter sido hostilizado com atitudes racistas ao ingressar no partido na cidade de Maia.
O “Chega” emergiu no cenário político da relativamente jovem democracia portuguesa na última década, surfando a onda ultraconservadora que varreu o mundo e levou ao poder gente como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Matteo Salvini e outros aproveitadores demagogos que catalisaram as demandas vindas de frações despolitizadas e mal-intencionada do povo, que viram no discurso radical, muitas vezes travestido de “nacionalista” e anticorrupção”, a chance de extravasar a verve racista, fascista, xenofóbica, homofóbica e misógina incontida, fazendo explodir o ódio no horizonte eleitoral dessas nações.
André Ventura, o “Bolsonaro português”, chefia uma malta odienta que reivindica as “glórias” do salazarismo (1933-1974), a mais longeva ditadura do Ocidente no século XX, dirigida por António de Oliveira Salazar (e que ainda se seguiu por uns bons anos após sua morte), responsável por décadas de repressão, mortes, torturas, desaparecimentos e censura que trouxeram como “fantásticos” resultados o isolamento total de Portugal do mundo exterior e empobrecimento e a atrofia para um país encravado na Europa.
Os casos de xenofobia e racismo contra brasileiros de extrema-direita, fanáticos seguidores bolsonaristas que não quiseram ficar por aqui e desfrutar das “maravilhas” de um breve governo que conseguiu em tempo recorde destroçar o Brasil, só mostram que essa gente sequer compreende o que defende em suas sandices ideológicas. Só analfabetos políticos estúpidos podem achar que um partido fascista de uma nação europeia (por mais que seja periférica) iria aceitar em seu seio estrangeiros de uma antiga colônia, profundamente miscigenada, e que eles os receberiam de braços abertos em nome do “conservadorismo” que os próprios nem mesmo sabem o que é.