A Justiça da Argentina condenou a vice-presidenta do país, Cristina Kirchner, a 6 anos de prisão. A sentença foi proferida no final da tarde desta terça-feira (6).
Cristina, que presidiu o país de 2007 a 2015, é acusada de supostamente chefiar uma associação criminosa que teria desviado dinheiro público durante seu mandato e também na gestão de Néstor Kirchner (de 20017 a 2015).
A sentença foi proferida em primeira instância e ainda cabem recursos, que podem fazer o caso chegar até o Supremo Tribunal Federal (STF) do país. A vice-presidenta, portanto, não será presa por enquanto pois tem a prerrogativa de foro privilegiado e pode, inclusive, se candidatar nas próximas eleições.
Cristina nega todas as acusações e afirma que é vítima de lawfare, tal como aconteceu com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Brasil.
Versão argentina de Sergio Moro, Vaza Jato e Globo
Cristina Kirchner classificou a perseguição que vem sendo alvo como "Partido Judicial" e comparou a situação ao que ocorreu com Lula (PT) no Brasil e Rafael Correa no Equador em entrevista a Monica Bergamo, na edição desta segunda-feira (5) da Folha de S.Paulo.
"Com Lula, a mesma coisa. A diferença é que as mesmas pessoas que o meteram preso depois foram buscá-lo e reverteram o que tinham feito. E por quê? Porque chegou Bolsonaro, um personagem que fez muito mal ao país e a muitos atores da vida brasileira", afirmou.
E, realmente, a narrativa de corrupção criada em torno de uma associação supostamente ilícita que destinava verbas para 51 obras na província de Santa Cruz, da qual o ex-presidente Néstor Kirchner, seu marido, morto em 2010, foi governador, tem trama e personagens semelhantes ao que ocorreu no Brasil - e também no Equador.
No dia 17 de outubro, o site Página 12 revelou uma espécie de Vaza Jato argentina divulgando conversas de um grupo de Telegram por Pablo Casey, diretor de Assuntos Jurídicos e Institucionais do Grupo Clarín, empresa de comunicação que domina a mídia liberal aos moldes de como atua a Globo no Brasil.
O grupo foi formado para encobrir uma viagem voo fretado de empresários, ex-agentes de inteligência e juízes ligados à investigação contra Cristina que viajaram para uma fazenda de 12 mil hectares, em Bariloche, que pertence ao bilionário inglês Joe Lewis, amigo íntimo de Marcelo Macri, ex-presidente neoliberal da Argentina.
Entre os presentes estava o juiz Julián Ercolini, uma espécie de Sergio Moro, que liderou a ofensiva judicial contra Cristina, que na entrevista à Folha, revelou o papel do magistrado no processo de lawfare.
"A sentença foi escrita em 2 de dezembro de 2019, na primeira vez em que testemunhei neste julgamento. Por razões muito simples. Primeiro: todas as minhas garantias constitucionais foram violadas. Segundo: tudo o que foi dito é mentira. Terceiro: o juiz que investigou este caso [em primeira instância, e decidiu enviá-lo a julgamento] é o mesmo [Julián Ercolini] que há sete ou oito anos, diante das mesmas denúncias feitas pela oposição, disse que não era competente [para investigar] e enviou o processo para [a Justiça do] sul do país. A Justiça de Santa Cruz investigou e houve o sobreseimiento [quando um processo é finalizado por falta de causa]. Aquele processo envolveu o mesmo empresário e exatamente as mesmas 51 obras que agora voltaram a ser investigadas. Quando todas as garantias são violadas, quando o juiz falava uma coisa e hoje fala outra com base em uma denúncia feita pelo governo [de seu principal opositor, o ex-presidente Mauricio] Macri, obviamente haverá uma condenação", afirmou Cristina.