O excêntrico empresário Elon Musk, que é o novo dono do Twitter, anunciou o seu novo empreendimento nesta quarta-feira (30) durante um evento de recrutamento, conhecido como "Show and tell".
A nova empreitada de Musk está vinculada a uma outra empresa sua, a Neuralink, que é responsável por desenvolver estudos que mesclam medicina e tecnologia. No entanto, essa empresa é alvo de críticas e investigações por causa da falta de transparência com os seus experimentos.
Durante o evento de caça-talentos, Musk anunciou para 2023 o início de um projeto que envolve instalar chips em cérebros humanos. O empresário também revelou que ele mesmo será uma das cobaias de tal experimento.
De acordo com Musk, a tecnologia que a Neuralink está desenvolvendo vai possibilitar a restauração da visão, mesmo para pessoas que nasceram cegas. Além disso, Musk também afirmou que um segundo dispositivo, a ser instalado no córtex do cérebro, vai "restaurar a funcionalidade do corpo inteiro" de pessoas tetraplégicas.
"Estamos confiantes de que não há limitações físicas para restaurar a funcionalidade do corpo inteiro", disse Elon Musk.
A Neuralink, segundo Musk, deve começar a testar a nova tecnologia em córtex de seres humanos em até seis meses.
"Obviamente, queremos ser extremamente cuidadosos e certo de que funcionará bem antes de colocar um dispositivo em um ser humano, mas estamos submetidos, eu acho, a maior parte da nossa papelada à FDA (agência regulatória de Saúde dos EUA)", declarou Musk. Elon Musk também afirmou que ele próprio irá testar o chip em seu cérebro.
Apesar do entusiasmo de Musk, as suas declarações não foram bem recebidas e o seu projeto pode ser barrado pelas agências regulatórias dos EUA.
Projeto obscuro
Os tais dispositivos da Neuralink, segundo Musk, começaram a ser testados em macacos em 2016 - o que gerou muita crítica -, no entanto, tais pesquisas nunca foram submetidas à FDA ou a análise dos pares, prática comum em pesquisas médicas e acadêmicas.
Em entrevista à CNBC, Xing Chen, professor do Departamento de Oftalmologia da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, declarou que as revelações de Musk demandam "muita cautela".
"Eu não sei quanta supervisão está envolvida, mas acho que é muito importante para o público sempre ter em mente que, antes que qualquer coisa tenha sido aprovada pela FDA, ou qualquer órgão regulador, todas as alegações precisam ser examinadas com muito, muito ceticismo", disse Xing Chen.
A Neuralink iniciou as suas atividades em 2016 e foi fundada por Musk e um grupo de cientistas. De acordo com suas divulgações à imprensa, ela trabalha para desenvolver interfaces cérebro-computador, ou seja, conectar o cérebro humano a computadores para que estes decifrem sinais neurais. O problema e o ceticismo em torno da empresa, é que nunca ninguém teve acesso aos estudos por ela desenvolvidos.
Durante o evento desta quarta-feira, Musk apresentou imagens de um macaco com um chip de computador no crânio jogando "videogames telepáticos".
Segundo informações da imprensa estadunidense, os experimentos com macacos tiveram início há mais de um ano e, segundo denúncias, os animais submetidos ao experimento com chips tiveram hemorragia interna, paralisia, infecções crônicas, convulsões e morte.
Após as denúncias dos experimentos com macacos, o Comitê Médico de Medicina Responsável pediu a Musk que apresente detalhes dos experimentos.
Médicos pesquisadores têm criticado a nova empreitada de Elon Musk, pois, alertam que, uma coisa é você investir em tecnologia de carros, outra bem diferente é envolver humanos.
"Space X ou Twitter é uma coisa, mas quando você entra no contexto médico, as apostas são maiores. De uma perspectiva ética, acho que isso é muito preocupante", disse à CNBC Anna Wexler, professora assistente de ética médica e política de Saúde da Escola de Medicina Perelman da Universidade de Pensilvânia.
Além da Neuralink, há mais três empresas que têm trabalhado no desenvolvimento dos chamados BCIs (cérebro-computador): a Blackrock Neurotech, a Synchron e a Paradromics, todas com autorização da FDA para iniciar os testes em seres humanos.
Com informações da CNBC.