DIREITOS HUMANOS

Catar: Australianas forçadas a fazer exame vaginal após bebê ser abandonado

País da Copa comete violações sistemáticas e caso da criança deixada no aeroporto de Hamad, em 2020, acabou gerando crise diplomática. Passageiras ficaram apavoradas e traumatizadas

Avião na pista do Aeroporto Internacional de Hamad, no Catar..Mulheres denunciam violação grave por autoridades do Catar, após serem submetidas a exame vaginal constrangedor por conta de um bebê abandonado no localCréditos: YouTube/Reprodução
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Uma história de horror e abuso ocorrida em outubro de 2020 voltou à tona neste final de 2022 com a aproximação do início da Copa do Mundo do Catar. Tudo começou quando um bebê foi abandonado no Aeroporto Internacional de Hamad, alguns quilômetros ao sul de Doha, a capital do Catar, a sede do mundial de futebol que começa no próximo dia 24.

As autoridades do país árabe foram informadas no fim da tarde de 2 de outubro de 2020 que uma criança de poucos dias estava dentro de um saco plástico numa lixeira do sofisticado e ultramoderno aeroporto Hamad. A partir daí, um alerta foi lançado para os policiais e seguranças do local, que saíram atabalhoadamente buscando alguma mulher que poderia ser a autora do abandono do bebê, uma menina, que foi levada a um hospital de Doha em boas condições de saúde.

De repente, uma ordem vinda ainda não se sabe de quem, ordenou que todas as mulheres adultas em idade fértil de inúmeros voos da Qatar Airways fossem levadas para uma área, na presença de médicas ginecologistas, para que se submetessem de maneira forçada a um exame vaginal para detectar se alguma delas teria dado à luz recentemente, o que seria um suposto indício de que poderia ser a mãe da criança jogada na lata de lixo.

Não há informações precisas sobre quantas mulheres foram submetidas ao exame constrangedor e abusivo, nem suas nacionalidades, pois elas não denunciaram o absurdo procedimento. Exceto um grupo de 13 australianas, que naquele momento partiam num voo com destino a Sydney.

Uma dessas passageiras australianas estava com o filho de cinco meses no voo que regressaria à nação da Oceania e também foi submetida à grotesca “inspeção”. O advogado que representa sete dessas vítimas das violações sistemáticas aos Direitos Humanos praticadas por autoridades do Catar, Damian Sturzaker, disse que muitas delas seguem traumatizadas e que a mãe que foi “examina” com seu filho pequeno relatou a ele que aquele foi “o pior momento de sua vida”.

O caso tomou uma proporção tão grande que o Ministério de Relações Exteriores da Austrália protestou formalmente contra o governo do Catar, o que fez inclusive com que o primeiro-ministro do pequeno estado árabe, Khalid ibn Khalifa ibn Abdul Aziz Al Thani, pedisse desculpas públicas, anunciando depois a prisão de um funcionário do aeroporto, que estaria na cadeia de comando quando a ordem bizarra foi emitida.

“A enfermeira disse ‘você precisa deitar na cama'... Aí ela pegou minha calça e minha calcinha e tirou... Por um segundo eu só pensava que minha cabeça ia explodir diante daquilo”, disse, ao jornal britânico The Independent, uma das mulheres submetidas ao infame exame vaginal, sem se identificar.