A crise política que se instaurou em Honduras após a cisão realizada no Congresso Nacional acabou fortalecendo a presidenta eleita Xiomara Castro (Livre), de esquerda. O temor de um novo golpe fez a população ir às ruas e fez a comunidade internacional voltar os olhos para o país centro-americano, fortalecendo a presidenta.
O acordo eleitoral do Partido Livre com o Partido Salvador de Honduras (PSH) previa a vice-presidência para o PSH e o comando do Poder Legislativo. Um setor do Livre, no entanto, se rebelou contra essa decisão, traiu o partido e se juntou à oposição para conquistar o comando do Congresso. Isso provocou uma cisão no órgão e a tomada de posse de duas legislaturas diferentes.
A instabilidade provocada por essa rebelião no Livre deixou o país em alerta diante da possibilidade um novo golpe parlamentar. Em junho de 2009, o ex-presidente Manuel Zelaya foi vítima de um golpe jurídico, midiático e militar que interrompeu um ciclo de mudanças sociais e fez o autoritarismo tomar conta de Honduras.
A vitória de Xiomara Castro em novembro foi uma reviravolta histórica em Honduras por levar de volta à presidência justamente a força política golpeada há 12 anos e ainda eleger uma mulher como presidenta pela primeira vez. Por esses motivos, o risco de um novo desrespeito à vontade popular não parece tão irreal. Desde a eleição, havia um temor entre os apoiadores de Xiomara de uma reação antidemocrática do Partido Nacional de Honduras, do atual presidente Juan Orlando Hernández (JOH).
Posse de Xiomara Castro está garantida
Para o consultor político Pedro Henrichs, que foi a Honduras acompanhar a juramentação da presidenta eleita, a crise no Congresso gerou um estado de mobilização popular e de vigilância internacional que impediu qualquer tentativa de atropelo constitucional. A posse de Xiomara Castro está prevista para quinta-feira (27).
"Vai ter a posse sim. O problema no congresso fortaleceu a presidenta junto ao povo e a comunidade internacional. O clima que o congresso criou tem prejudicado ao próprio congresso", afirmou Henrichs, analista da Aliá Consultoria Política, à Fórum.
"Pessoas até que não estiveram com ela nas eleições acham que oq aconteceu no congresso só prejudica o povo e, por isso, agora vão apoiar o governo. O clima nas ruas é de muita confiança na posse, sobretudo com a ampla presença de delegações internacionais", completou o analista político. Segundo ele, o temor de um golpe arrefeceu.
Entre as figuras que vão à posse de Xiomara estão a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, a vice-presidenta dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o rei da Espanha, Filipe VI. A presença forte de delegações estrangeiras mostra que a comunidade internacional respalda Xiomara Castro, o que gera mais expectativas na população.
"Isso mostra que o governo tem o reconhecimento. Algo que o governo que tá saindo não teve", acrecentou Henrichs. A eleição de JOH em 2019 foi bastante contestada e teve indícios fortes de fraude. Além disso, há laços do narcotráfico com o presidente, que teve um irmão condenado nos Estados Unidos com prisão perpétua por envolvimento com tráfico de drogas.
Retorno do povo ao poder em Honduras
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), secretário geral do PT, também foi acompanhar a posse e destacou a importância desse retorno da esquerda no país após 12 anos do golpe contra Zelaya - que será o primeiro-cavalheiro do país.
"Xiomara Castro é uma grande novidade na América Latina. Ela foi eleita pelo povo como uma reação ao golpe e às políticas que aumentaram a desigualdade em Honduras. Xiomara também é a única mulher a presidir um país na América Latina, o que fez com que se mobilizassem para sua posse Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. Ela tem também uma política de alinhamento soberano e anti-neoliberal", afirmou à Fórum.
"A crise parlamentar já foi devidamente contornada. Xiomara representa o retorno do povo ao governo de Honduras, assim como ocorreu no Chile, na Bolívia, no Peru", completou Paulo Teixeira.