Argentina: Governo perde prévias e Alberto Fernández promete mudanças

Coalizão Frente de Todos conquistou apenas 30% do eleitorado nas prévias legislativas e deve se mexer para evitar derrota em novembro

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A Frente de Todos, coalizão formada pelo kirchnerismo e demais setores que apoiam o governo do presidente Alberto Fernández na Argentina, obteve um desempenho abaixo do esperado nas eleições prévias de domingo (12). A frente alcançou apenas 30% dos votos em suas listas de deputados e, nacionalmente, ficou atrás do agrupamento Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri.

Segundo projeção feita pelo diário Página 12 e pelo Canal 9, o Juntos conseguiu 40,5% dos votos válidos em suas listas pelo país nas PASO (Primarias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias). O oficialismo ficou apenas com 31,3%. Partidos regionais levaram 9,2% dos votos e a Frente de Esquerda conseguiu 6,3%. Mais atrás aparecem a coalizão Vamos com Vocês, peronismo nao-kirchnerista, com 3,2% e a lista da extrema-direita, Avança Liberdade, com 3,2%.

Essas prévias dizem respeito às eleições legislativas intermediárias que acontecem em 14 de novembro. No pleito, metade da Câmara e um terço do Senado são renovados. Se o cenário das PASO se repetir, a Frente de Todos teria um resultado pior que o obtido das eleições intermédias de 2017, quando Macri ainda era presidente.

Das 127 cadeiras em disputa, apenas 49 ficariam com o kirchnerismo, 3 a menos que 2017. O macrismo, por sua vez, levaria 61, uma a mais que a última eleição intermediária. Com isso, a Frente de Todos cairia de 120 para 117 cadeiras na Câmara, um resultado bem abaixo do seu objetivo, que é chegar a 128 e garantir a maioria na casa legislativa. O Juntos alcançaria 116 cadeiras e ficaria bem próximo do oficialismo.

No Senado, o governo perderia a maioria das cadeiras, com 6 baixas. Seriam 35 parlamentares da Frente de Todos contra 34 do Juntos e 3 de partidos regionais.

Mudanças no governo para evitar nova derrota

Alberto Fernández, no entanto, não pretende entregar os pontos. Assim como em 2019, quando Mauricio Macri sofreu uma derrota histórica nas PASO e conseguiu se reorganizar para estancar a sangria no pleito geral, o presidente pretende promover mudanças.

“Nada é mais importante do que escutar o povo. Hoje ele nos disse que cometemos erros e vamos atendê-lo. A partir de amanhã vamos trabalhar, com o empenho e a força de sempre, para satisfazer as necessidades que não temos satisfeito", afirmou Fernández em discurso feito logo após o resultado das PASO.

Fernández foi muito cobrado por setores do kirchnerismo que enxergam uma postura muito moderada, sem avançar sobre problemas mais profundos da Argentina. Há uma forte cobrança para encarnar mais forte o "peronismo" e abandonar uma posição que busca agradar a todos.

"O governo deve se comportar como um governo peronista e deixar a bondade com os trabalhadores e não com o inimigo. Agora precisamos, talvez, que ele próprio se torne outro. Se isso se repetir em novembro, [Horario Rodríguez] Larreta terá todas as chances de ser presidente", diz o jornalista Roberto Navarro em editorial do veículo El Destape, de vertente progressista.

"A sociedade se afasta do centro porque o centro não dá respostas e os extremos têm um discurso mais emocional. O centro não tem narrativa. Saia do centro, caro Alberto", diz ainda.

A diplomata Alicia Castro, importante figura do kirchnerismo que é bastante crítica a Alberto Fernández e integra a Internacional Progressista, também fez cobranças nas redes sociais. "O que aconteceu? A autocrítica constrói. A negação de nossa militância é inútil: o manejo da pandemia não é bom. O governo ouviu a oposição e não aqueles que propõem medidas para SALVAR VIDAS. Dissemos isso há muito tempo, insistimos", apontou.

"O que aconteceu nas PASO?. A Frente de Todos nasceu como uma coalizão eleitoral, mas ainda está pendente que funcione como uma coalizão de governo. Cristina Kirchner, o kirchnerismo que contribuiu com votos, história, energia, estratégias, está mal representado na políticas do governo", destacou.

A opinião de analistas do campo progressista argentino vai toda nessa direção, de que falta kirchnerismo no governo. Um dos elementos destacados está um ajuste fiscal promovido durante a pandemia da Covid-19. O ministro da Economia, Martín Guzmán, é alvo de muitas críticas.