A madrugada desta terça-feira (31) entra para o calendário como o fim da guerra mais longa na história dos EUA.
Porém, antes de se retirar por completo do Afeganistão e colocar fim a uma ocupação de 20 anos, o Exército dos EUA destruiu aviões, blindados e o sistema de defesa antimísseis.
Em entrevista coletiva para a imprensa estadunidense, o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA, órgão responsável pelas operações militares do país no Oriente Médio, revelou que foram inabilitados 73 aviões, 70 veículos blindados resistentes a minas terrestres (cada um avaliado em US$ 1 milhão) - e 27 Humbees.
Talibã festeja fim da ocupação
O encerramento da ocupação estadunidense no Afeganistão foi comemorado pelo grupo Talibã. Foram 20 anos de ocupação ou da "guerra sem fim", como era chamada no Afeganistão, desde que o país foi invadido em 2001.
Antes da invasão por parte dos EUA, o Talibã comandava o país desde 1996 e, à época do ataque às Torres Gêmeas, foi acusado de financiar e ter dado guarida ao grupo terrorista Al-Qaeda, que era liderado por Osama bin Laden e assumiu a autoria dos ataques às Torres.
"A derrota dos EUA é uma grande lição para outros invasores e para nossas gerações futuras". declarou Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, ao comentar o fim da ocupação.
Relações diplomáticas
Apesar da euforia com o fim da ocupação estadunidense no Afeganistão, os líderes do Talibã afirmam que, a partir de agora querem estabelecer uma relação diplomática com o governo de Joe Biden.
"Queremos ter boas relações com os Estados Unidos e com o mundo. Saudamos boas relações diplomáticas com todos", afirmou Mujahid.
Todavia, a Embaixada dos EUA em Cabul, suspendeu as suas atividades e, em comunicado divulgado nesta terça-feira (31) afirmou que vai continuar a ajudar os cidadãos dos EUA e suas famílias no Afeganistão a partir de Doha, Qatar.
Talibã: Como surgiu e quem é o grupo que retomou o poder no Afeganistão
O grupo fundamentalista Talibã retomou o controle do Afeganistão após chegar na capital Cabul e tomar o palácio presidencial.
Horas antes, o então presidente afegão Ashraf Ghani já havia deixado o país quando informado de que o grupo estava a poucos quilômetros de Cabul.
Orientados por uma leitura radical da Sharia (Lei Islâmica), o Talibã proíbe educação para as mulheres, televisão e promove execuções públicas contra aqueles que não seguem as regras teocráticas impostas pelo grupo.
O objetivo da ocupação estadunidense no Afeganistão era estabelecer a paz na região e impedir que o país se tornasse um polo de grupo radicais anti-ocidente.
A história do Talibã, hoje inimigo dos EUA, tem ligação direta com a guerra de combate ao comunismo promovida pelos Estados Unidos no período que ficou conhecido como Guerra Fria.
Operação Ciclone
Após a intervenção da União Soviética, em 1979, no Afeganistão, o então presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-81) assinou um decreto presidencial que autorizava o financiamento para o treinamento de guerrilhas anticomunistas no Afeganistão.
Esse programa seria levado adiante pelo presidente Ronald Reagan (1981-89), política esta que ficou conhecida como “Doutrina Reagan”, por meio da qual os Estados Unidos forneceram apoio militar a movimentos anticomunista no Afeganistão, Angola, Moçambique, Nicarágua e outros países.
Oficiais paramilitares da CIA foram destacados para o Afeganistão para treinar, equipar e comandar as forças de mujahedin contra o Exército Vermelho. Entre 1978 e 1992, com um orçamento estimado em 20 bilhões.
A Operação Ciclone foi considerada um sucesso indireto para os Estados Unidos e relacionada diretamente com a ascensão do Talibã no Afeganistão.