Jeanine Áñez, ex-ditadora da Bolívia que assumiu o poder após o golpe de Estado que derrubou o ex-presidente Evo Morales, foi presa nesta sexta-feira (12) na província de Beni após a Procuradoria Geral emitir ordem de prisão contra ela, ex-ministros e comandantes militares.
O pedido da procuradoria está ligado ao golpe de 2019, que levou a ex-senadora Áñez ao poder sem qualquer previsão constitucional. Os citados são acusados de sedição e terrorismo, entre outros crimes.
Após a ruptura democrática, ocorreram dois massacres contra povos indígenas (Sacaba e Senkata) no país e ao menos 30 pessoas foram mortas, além de dezenas de desaparecidos e centenas de feridos. Esses fatos são denunciados pela Defensoria Pública da Bolívia e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a CIDH.
A ex-ditadora chegou a se candidatar nas eleições regionais do último domingo (7), mas acabou ficando em terceiro lugar na disputa pelo governo de Beni.
Pelo Twitter, ela criticou a ordem de prisão. "A perseguição política já começou. O MAS decidiu voltar aos estilos da ditadura. Uma pena porque a Bolívia não precisa de ditadores, precisa de liberdade e soluções", escreveu.
Vídeos publicados por jornalistas e veículos independentes mostram que há forte presença policial no entorno da casa da ex-senadora e que populares foram ao local para presenciar o momento.
Além da ex-presidenta de fato, a procuradoria pediu a prisão dos ex-ministros Arturo Murillo (Governo), Luis Fernando López (Defesa), Álvaro Coimbra (Justiça), Rodrigo Guzmán (Energia) e Yerko Núñez (Presidência). Integrantes do Alto Comando Militar também foram listados.
Murillo e López conseguiram fugir da Bolívia pelo Brasil, através da fronteira com Corumbá (MS). Foragidos, os dois estaria nos Estados Unidos ou no Panamá. Guzmán e Coimbra já foram detidos.
O golpe foi derrotado com a mobilização do povo boliviano, que elegeu o presidente Luis Arce em uma vitória esmagadora em primeiro turno nas eleições de 2020. Arce é do Movimento ao Socialismo (MAS), mesmo partido de Morales.
Memória, Verdade e Justiça
Em entrevista ao Fórum América Latina, em novembro, o ministro da Justiça da Bolívia, Iván Lima, comentou sobre os trabalhos que vinham sendo conduzidos para responsabilizar os golpistas. Ele contou que um comitê da CIDH vinha investigando a situação e que o governo luta por memória, verdade e justiça.
“O que temos nesse momento é um grupo de investigadores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Esse tipo de intervenção busca reparar o dano às vítimas e é a base para entender a verdade como direito dos povos e para superar o que ocorreu e novamente vivermos o que vivemos”, declarou o ministro.
“A verdade e a justiça são um direito dos povos e esse grupo dá a garantia de que não é a ‘versão de Evo Morales’, a minha ou a do Movimento ao Socialismo. Estamos assumindo um compromisso e até mesmo cedendo parte de nossa soberania”, completou.
Lima destaca que há os responsáveis imediatos pelas mortes, os agentes de segurança, mas não se pode esquecer daqueles que impulsionaram as tensões vividas no país. "Se não houvesse o informe da Organização dos Estados Americanos (OEA), não haveria todo o sofrimento desse último período. Centenas de feridos, tantas famílias que perderam entes queridos e a profunda dor que essa ruptura provocou”, disse.
Com informações do El Deber, da Telesur, da ATB e do Erbol
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