Uma estudante de 18 anos, da Etiópia, fez um relato assustador à BBC. Ela contou que perdeu a mão direita porque se defendeu de um soldado que quis estuprá-la. Além disso, o militar tentou forçar o avô da jovem a fazer sexo com ela.
A vítima, que pediu para não ser identificada, está internada na região de Tigray, no norte da Etiópia, há mais de dois meses, se recuperando da violência que sofreu. As autoridades negam as acusações. A jovem e seu avô moram na cidade de Abiy Addi, aproximadamente 96 km a oeste de Mekelle, em Tigray. O conflito na região ocorre desde novembro de 2020.
No dia 3 de dezembro, um soldado, com uniforme militar etíope, entrou na casa da estudante exigindo saber onde estavam os combatentes antigoverno. Ele procurou pela casa toda e não encontrou ninguém.
“Ele, então, ordenou que meu avô fizesse sexo comigo. Meu avô ficou muito zangado e eles começaram a brigar”, conta a jovem. O militar levou o idoso para fora e atirou nos ombros e na coxa dele. Voltou à casa e avisou que o tinha matado.
“Ele disse: ‘Ninguém pode salvá-la agora. Tire a roupa’. Eu implorei a ele que não o fizesse, mas ele me deu vários socos”, prossegue. Após isso, o soldado ficou com tanta raiva porque a jovem resistiu que apontou a arma para a vítima.
“Ele atirou na minha mão direita três vezes. Ele atirou na minha perna três vezes. Ele saiu quando ouviu um tiro do lado de fora”, relembra.
Depois que o militar foi embora, a estudante constatou que seu avô estava vivo, mas ferido. Com receio de procurar ajuda, os dois ficaram dois dias trancados em casa.
Vários casos
O caso da jovem vai ao encontro das preocupações sobre relatos de estupros em Tigray, expressos por Pramila Patten, a enviada da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre violência sexual em conflito.
“Havia relatos perturbadores de indivíduos supostamente forçados a estuprar membros de suas próprias famílias, sob ameaças de violência iminente. Algumas mulheres também foram supostamente forçadas por elementos militares a fazer sexo em troca de produtos básicos, enquanto os centros médicos indicaram um aumento na demanda por contracepção de emergência e testes para infecções sexualmente transmissíveis, o que muitas vezes é um indicador de violência sexual em conflito", revela Pramila.