Quando surgiu a pandemia e com ela todos os seus novos protocolos de vida, parcelas da sociedade chegaram a acreditar que tal catástrofe tornaria a sociedade melhor. Isso não aconteceu, e pior: a crise sanitária aumentou o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
O relatório "Desigualdade Mundial", que tem como um de seus coordenadores o economista francês Thomas Pikkety, revela que a pandemia serviu para intensificar a concentração de riqueza: a riqueza dos bilionários cresceu US$ 3,7 trilhões durante o ano de 2020.
O montante ganho pelo grupo que congrega um grupo minoritário de 520 mil bilionários é próximo do que foi gasto, em termos globais, com saúde no mesmo período em que ficaram mais ricos: US$ 4 bilhões.
Processo endêmico
"O que aconteceu durante a crise da Covid-19 é a exacerbação desse padrão que observamos desde o início dos anos 90. Há variações entre as regiões do mundo. Mas a parte mais pobre, um lado significativo da população em cada região, sistematicamente tem menos de 5% da riqueza", analisa Lucas Chanel, principal autor do relatório e coeditor do laboratório.
Segundo o estudo desenvolvido pelo laboratório "Desigualdade Mundial" - o nome do estudo leva o mesmo nome do grupo de pesquisadores -, desde 1995, o 1% mais rico capturou 38% da riqueza global produzida no período, enquanto o 50% mais pobres ficaram apenas com 2% desse montante.
O pequeno grupo de bilionários detém 11% da riqueza global.
América Latina: 10% detêm 77% da riqueza
Como explicado por Chanel, a concentração de riqueza se dá de maneira variada de uma região para outra.
Na América Latina, os 10% mais ricos detém 77% da riqueza total das famílias, o que é superior ao 1% capturado pelos 50% da base.
Além disso, a riqueza média dos 10% mais ricos da América Latina é 630 vezes superior a dos 50% mais pobres.
Caso esse cenário não seja alterado, os autores da pesquisa projetam que, no ano de 2070 o 0,1% mais rico irá capturar mais de um quarto da riqueza global e, ao término do século, essa parcela será maior do que os 40%.
Concentração de renda
Quando se analisa a concentração de renda, o cenário também é dantesco: os 10% mais ricos possuem cerca de 52% da renda global.
Na outra ponta, os 50% da base da pirâmide correspondem 8% da renda global.
A renda média do 1% mais rico é 144 vezes maior do que a renda média dos 50% mais pobres.
No caso da América Latina, os 50% da base ganham 27 vezes menos do que os 10% do topo.
Especificamente no Brasil, os 50% mais pobres têm renda média 29 vezes menos que os 10% do topo.
Gênero e renda
O cenário também revela que a desigualdade socioeconômica por gênero continua.
De acordo com o estudo, a participação das mulheres na renda do trabalho global pouco avançou a partir da década de 1990, quando esse percentual se aproximava de 30%, atualmente é menos de 35%.
"Um mundo desigual e com sociedade mais desiguais tem mais dificuldades para enfrentar situações como a crise da Covid-19. Há vários benefícios para se mover para uma sociedade mais igual e um deles é estar em um melhor posição para enfrentar os desafios do século XXI", diz Chancel.
Com informações d'O Globo