Recém-eleito presidente do Chile, Gabriel Boric (Frente Ampla) tem a missão de fazer aprovar o seu plano econômico e, a partir daí, saber se o povo chileno quer, junto com ele, enterrar de vez a herança econômica dos “chicagos boys” do ditador Augusto Pinochet.
O plano econômico de Gabriel Boric e da Frente Ampla trabalha com alguns eixos centrais: taxação das grandes fortunas, a criação de um Banco Nacional de Desenvolvimento, redução da jornada de trabalho, o fim das empresas privadas de saúde e criação de um Sistema Único de Saúde.
Além disso, reportagem do jornal Página12 destaca que as reformas tributárias, naquele que é um dos países mais desigual da América Latina e o fim do atual sistema previdenciário, que envolve o fim das Administradoras de Fundos de Pensão, são tidos como o principal desafio do governo Boric.
Parte do plano econômico do novo governo de esquerda do Chile estará atrelado à nova Carta Magna que segue em construção na Assembleia Constituinte. Para o jornal Página12, a extrema direita (que conquistou muitos assentos no Parlamento), os 44% do eleitorado que votaram em Kast (Republicanos) e os detentores dos meios produção deverão atuar para impedir as reformas e manter o seu controle sobre a riqueza do país.
Boric e o desafio de uma nova economia chilena
Em entrevista ao Página12, Elsiabet Gerber, uma das diretoras do Fundación Chile 21 e professora da Universidade de Santiago do Chile, "o desafio para Boric (frente fiscal, relação Estado-mercado, redistribuição da riqueza) é basicamente político, pois as medidas tomadas colocam em risco a hegemonia do mercado e atingem os interesses do estabelecimento, como imposto sobre fortuna e os royalties da mineração".
A pesquisadora explica que tais políticas vão "exigir acordos políticos no Congresso, onde não há maiorias, e haverá um novo ator contrário a tais mudanças que tem um bloco ultraconservador (partidários de Kast, o candidato à presidência derrotado no 2º turno) contrários a tais mudanças. Por sua vez, o voto favorável em Boric e o recorde de participação das autoridades eleitorais dão margem para um forte apoio popular aos projetos de transformação da economia".
A reforma fiscal
Os pesquisadores entrevistados pelo Página12 também explicam que, o maior problema de Boric será no Congresso: na Câmara ele conta com maioria simples, e no Senado há uma divisão de 25/25, ou seja, em qualquer uma das casas será necessário abrir diálogo com o campo conservador e, fora do parlamento, mobilizar a população.
A política de reforma fiscal apresentada pelo plano de governo da Frente Ampla também é ousada e, para que o governo obtenha sucesso em sua aprovação será necessária muita pressão das ruas.
O plano fiscal propõe o seguinte:
Um novo esquema com mais royalties de mineração, ou seja, para obter mais recursos do setor mais lucrativo da economia chilena; Reformulação do imposto de renda, que até agora foi diluído pelas fortunas de grandes empresas por não distinguir os lucros das empresas dos lucros pessoais; Retirada de isenções e subsídios a combustíveis e outros setores, como venda de ações, entre outros; Impostos sobre os super-ricos e herança.
Boric e o apoio popular
Segundo Gerber, a reforma tributária também é fundamental para aumentar os gastos com Ciência e Tecnologia, muito baixos no Chile em relação ao PIB (0,2 por cento) e que são "necessários para transformar a produção e recuperar o dinamismo econômico, aproveitando recursos naturais de forma compatível com o ambiente e promovendo a investigação e inovação em novos sectores".
Por fim, o novo governo do Chile, além das reformas estruturais da economia, também pretende criar um Sistema Universal de Saúde, criar um Banco de Desenvolvimento Social e reduzir a jornada de trabalho, estas medidas também prometem causar muitos atritos e pressões externas sobre o presidente eleito Boric.
Aliás, pressão externa que foi dada a Boric assim que foi eleito, o mercado financeiro já deixou bem claro que não gostou de sua eleição: a Bolsa de Santiago caiu 7,45%, a maior queda desde o anúncio da nova Constituinte.
Tudo indica que o governo de Boric, seja no plano econômico ou no social, deve ser marcado por uma tensão constante entre o setor da sociedade que quer romper com o modelo desigual herdado de Pinochet, e entre aqueles que querem construir um Chile mais justo e equânime.
Com informações do Página12