Lucía Hiriart, viúva do ex-ditador Augusto Pinochet, morreu nesta quinta-feira (16) no Chile. A morte, ocorrida às vésperas da eleição presidencial de domingo (19), provocou manifestações em Santiago contra o legado do ex-ditador e contra a impunidade de Hiriart e outras figuras ligadas ao regime ditatorial.
A ex-primeira-dama morreu aos 99 anos em decorrência de problemas de saúde. Hiriart teve grande influência política no regime de Pinochet. Ela era conhecia por ter posições mais duras que a do ex-ditador, sendo tratada como "o poder das sombras".
A morte de Hiriart às vésperas das eleições foi celebrada nas ruas por algumas pessoas que enxergam essa notícia como o símbolo do possível fim do legado pinochetista. O Chile vive nos últimos anos uma onda de protestos contra a herança da ditadura. Os manifestantes conseguiram provocar a abertura de um processo constituinte para rever a Constituição que está em vigor desde aquele tempo.
"Morreu, a velha morreu", cantavam manifestantes reunidos na Praça Dignidade, que foi o epicentro dos protestos massivos desse período recente. A hashtag #SeMurioLaVieja ganhou destaque nas redes sociais chilenas em razão da notícia.
Lucía Hiriart morreu na impunidade
No entanto, a morte de Hiriart aos 99 anos sem ter sido punida pela participação firme no regime de Pinochet foi alvo de críticas. Movimentos de direitos humanos que lutam por memória, verdade e justiça reagiram, denunciando a impunidade.
"Lucía Hiriart, viúva do ditador Auguto Pinochet, morreu em impunidade. Diante disso só nos resta lembrá-la na memória colectiva como cúmplice de múltiplas violações aos direitos humanos durante a Ditadura Militar, e investigada por delitos econômicos e fraude fiscal", disse a Fundação Olhos do Chile.
Uma faixa estendida na Praça Dignidade trazia a seguinte mensagem: "Não há mal que dure 100 anos, mas você partiu sem pagar Lucía Hiriart".
Eleição de domingo
A eleição de domingo é um retrato da persistência do pinochetismo. De um lado está o ex-líder estudantil de esquerda Gabriel Boric, da Frente Ampla, e, de outro, está o empresáriop José Antonio Kast, representante da extrema-direita que é ligado ao pinochetismo e apelidado de 'Bolsonaro chileno". Pesquisas mostram um cenário de total indefinição na disputa no Chile.
Boric também tratou de criticar a impunidade e não se contagiou com a euforia das ruas. "Lucía Hiriart morre impunemente, apesar da profunda dor e divisão que causou ao nosso país. Meus respeitos às vítimas da ditadura da qual fez parte. Não celebro a impunidade nem a morte, trabalhamos pela justiça e por uma vida digna, sem cair em provocações ou violência", escreveu no Twitter.