Às vésperas da eleição, viúva de Pinochet morre impune no Chile; povo vai às ruas

"Lucía Hiriart morre impunemente, apesar da profunda dor e divisão que causou ao nosso país", lamentou Gabriel Boric, candidato da esquerda na eleição chilena

"Não há mal que dure 100 anos, mas você partiu sem pagar Lucía Hiriart", diz faixa estendida na Praça Dignidade | Foto: Rafael Montecinos Ferrada/Lista do Povo/Twitter
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Lucía Hiriart, viúva do ex-ditador Augusto Pinochet, morreu nesta quinta-feira (16) no Chile. A morte, ocorrida às vésperas da eleição presidencial de domingo (19), provocou manifestações em Santiago contra o legado do ex-ditador e contra a impunidade de Hiriart e outras figuras ligadas ao regime ditatorial.

A ex-primeira-dama morreu aos 99 anos em decorrência de problemas de saúde. Hiriart teve grande influência política no regime de Pinochet. Ela era conhecia por ter posições mais duras que a do ex-ditador, sendo tratada como "o poder das sombras".

A morte de Hiriart às vésperas das eleições foi celebrada nas ruas por algumas pessoas que enxergam essa notícia como o símbolo do possível fim do legado pinochetista. O Chile vive nos últimos anos uma onda de protestos contra a herança da ditadura. Os manifestantes conseguiram provocar a abertura de um processo constituinte para rever a Constituição que está em vigor desde aquele tempo. 

"Morreu, a velha morreu", cantavam manifestantes reunidos na Praça Dignidade, que foi o epicentro dos protestos massivos desse período recente. A hashtag #SeMurioLaVieja ganhou destaque nas redes sociais chilenas em razão da notícia.

Lucía Hiriart morreu na impunidade

No entanto, a morte de Hiriart aos 99 anos sem ter sido punida pela participação firme no regime de Pinochet foi alvo de críticas. Movimentos de direitos humanos que lutam por memória, verdade e justiça reagiram, denunciando a impunidade.

"Lucía Hiriart, viúva do ditador Auguto Pinochet, morreu em impunidade. Diante disso só nos resta lembrá-la na memória colectiva como cúmplice de múltiplas violações aos direitos humanos durante a Ditadura Militar, e investigada por delitos econômicos e fraude fiscal", disse a Fundação Olhos do Chile.

Uma faixa estendida na Praça Dignidade trazia a seguinte mensagem: "Não há mal que dure 100 anos, mas você partiu sem pagar Lucía Hiriart".

Eleição de domingo

A eleição de domingo é um retrato da persistência do pinochetismo. De um lado está o ex-líder estudantil de esquerda Gabriel Boric, da Frente Ampla, e, de outro, está o empresáriop José Antonio Kast, representante da extrema-direita que é ligado ao pinochetismo e apelidado de 'Bolsonaro chileno". Pesquisas mostram um cenário de total indefinição na disputa no Chile.

Boric também tratou de criticar a impunidade e não se contagiou com a euforia das ruas. "Lucía Hiriart morre impunemente, apesar da profunda dor e divisão que causou ao nosso país. Meus respeitos às vítimas da ditadura da qual fez parte. Não celebro a impunidade nem a morte, trabalhamos pela justiça e por uma vida digna, sem cair em provocações ou violência", escreveu no Twitter.

Veja vídeo de manifestação realizada na Praça Dignidade

https://twitter.com/FerradaRafa/status/1471605542799888385
https://twitter.com/PiensaPrensa/status/1471598942764765186
https://twitter.com/PiensaPrensa/status/1471606160469942273
https://twitter.com/_isabellamazzei/status/1471609436057702401
https://twitter.com/byrkhoff/status/1471610537238687746
https://twitter.com/PauHuenchumil/status/1471608281713938432