A quatro dias do segundo turno da eleição presidencial do Chile, pesquisas mostram um cenário de total indefinição na disputa entre o ex-líder estudantil de esquerda Gabriel Boric e o empresário José Antonio Kast, conhecido como "Bolsonaro chileno". Pesquisas oficiais e não-oficiais difundidas nos últimos dias trazem cenários de empate técnico e empate numérico.
Pesquisa Atlas mostra empate numérico entre Boric e Kast no Chile
Levantamento da Atlas Inteligência difundido no exterior - a lei eleitoral do Chile não permite a divulgação de pesquisas nos últimos dias do pleito - mostra Boric e Kast com 50% dos votos válidos cada. O empate numérico expõe o acirramento de uma eleição marcada pelo embate entre a esquerda e a extrema-direita.
Nas intenções de voto (quando são considerados brancos e nulos), Kast fica um pouco na frente. O candidato do Partido Republicano tem 48,5% das intenções de voto, enquanto o da Frente Ampla aparece com 48,4%.
Apesar da ligeira vantagem, a pesquisa mostra que os dois cresceram com relação a um levantamento feito no dia 4 de dezembro, o que reforça o clima de indefinição para o domingo. Kast cresceu 9,8 pontos percentuais, enquanto Boric subiu 7,4 pontos.
Eleição imprevisível no Chile
Andrei Roman, CEO da Atlas Inteligência no Brasil, confirmou à Fórum a autenticidade da pesquisa e disse que a eleição do Chile é "bastante imprevisível". "Kast liderou ao longo de quase toda a campanha, mas, aos poucos, erros de campanha e um desempenho ruim no último debate tiveram o efeito de aumentar ainda mais um nível de rejeição que já era muito alto", afirmou.
No primeiro turno, Kast conquistou 28,01% dos votos contra 25,64% do esquerdista; candidaturas de direita somavam mais de 50%, o que dava vantagem ao extremista. Para tentar reverter o cenário e ganhar fôlego, Boric mobilizou independentes e os partidos tradicionais de centro-esquerda, da antiga coalizão chamada Concertación.
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"Temos basicamente dois Chiles. A região metropolitana onde Boric ganha com facilidade e o interior do país, onde a mensagem do Kast de 'mão dura' contra a criminalidade e a violência ressoa bastante. A mobilização comparativa de ponto de vista geográfico provavelmente decidirá essa eleição", completou.
Outros levantamentos não-oficiais divulgados nos últimos dias também apontam para essa indefinição. Por conta disso, a cientista política Talita Tanscheit, do Observatório Político Sul-Americano (OPSA), afirmou à Fórum que "não é possível apontar algum favoritismo para o domingo".
"As pesquisas oficiais e as não-oficiais apontam para essa indefinição. Além disso, há a grande icógnita sobre o comparecimento eleitoral. Quem irá às urnas no domingo neste país de voto facultativo e abstenção alta? É quase impossível fazer qualquer prognóstico sobre o segundo turno do Chile", comentou Tanscheit ao analisar a pesquisa Atlas.
Futuro é incerto
Questionada sobre as possibilidade de uma vitória do candidato da esquerda, a cientista política reforçou a incerteza. "Há chances reais do Chile eleger um presidente de esquerda, assim como há chances reais do Chile eleger um presidente de ultradireita. E o futuro é muito incerto, são dois projetos muito distintos que se encontram nas urnas no domingo", afirma.
"É um nível de incerteza altíssimo. É o nível de incerteza mais alto que o Chile já teve desde a transição democrática", completa.
Nos últimos anos o Chile se viu marcado por fortes protestos que questionavam a hegemonia do neoliberalismo no país que foi um laboratório para essa doutrina política-econômica. A onda de mobilização sacudiu o país e provocou a abertura de um processo constituinte para rever a Constituição que está em vigor desde a ditadura do general Augusto Pinochet. A eleição deste domingo pode definir o desfecho desse processo.
*O jornalista Miguel do Rosário colaborou com esta reportagem