A nova variante do Sars-Cov-2, o coronavírus que provoca a Covid-19, detectada primeiramente na África do Sul e batizada de Ômicron, já se espalhou para além do continente africano e essa informação deixou o mundo ainda mais alarmado nesta sexta-feira (26).
Autoridades sanitárias de Israel, no Oriente Médio, de Hong Kong, na Ásia, e da Bélgica, na Europa, confirmaram casos nesses países e elevaram o medo generalizado de que o mundo viva um novo surto avassalador de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Essas nações somam-se a Botswana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue, todas do continente africano, onde casos da Ômicron já haviam sido detectados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou os últimos dois dias em incessantes reuniões com cientistas do mundo todo e com seus conselheiros técnicos para avaliar a nova cepa viral. Depois de quase 48h analisando a mutação, a instituição global foi orientada a classificar a Ômicron como “variante de preocupação” (variant of concern).
"Qualquer restrição de viagem deve ser pesada, e países já podem fazer muito em termos de vigilância e sequenciamento e trabalhar em conjunto com os países afetados ou globalmente ", disse Christian Lindmeyer, porta-voz da OMS.
Potencial de contágio e de letalidade desconhecido
O motivo do alerta que correu o mundo nesta sexta-feira (26) é o fato de a cepa ter pelo menos 32 mutações em sua proteína spike, justamente a parte do patógeno sobre a qual são trabalhadas as vacinas, que impedem a entrada do vírus nas células e sua multiplicação.
O virologista brasileiro Túlio de Oliveira, que é diretor do laboratório Krisp, da Escola de Medicina Nelson Mandela, vinculada à Universidade Kwa-Zulu-Natal, que fica em Durban, na África do Sul, afirmou que a variante B.1.1.529, que recebeu o nome de Ômicron, teria, potencialmente, uma transmissibilidade muito maior que cepas anteriores e que, pelo fato de ter tantas mutações em sua proteína spike, não se sabe se as vacinas atuais contra o Sars-Cov-2 seriam capazes de detê-la.
Mundo assustado
Países da Europa, Oriente Médio e Ásia suspenderam voos oriundos do sul da África após a descoberta da variante Ômicron, considerada a com o maior número de mutações até agora, mais de 30.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou no Twitter que irá propor que todos os países membros do bloco proíbam voos oriundos da África do Sul.
Reino Unido, Alemanha, Itália, França, República Tcheca, Holanda, Israel, Cingapura, Japão e agora também os EUA já anunciaram a medida.
Aqui no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, negacionista convicto e grande responsável pela desarticulação que minou os esforços para frear a Covid-19 no país, que registra 614 mil mortos pela doença, já fez piadas e ironias com a nova e perigosa variante, afirmando que “o país não aguenta outro lockdown”.
O extremista de direita que ocupa o Palácio do Planalto passou o dia somando esforços para impedir qualquer medida restritiva a estrangeiros potencialmente contaminados na chegada ao Brasil.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que emitiu um alerta em caráter de sugestão, ainda aguarda uma decisão do Ministério da Saúde e da Casa Civil para poder então proceder.
Com a desculpa de que precisamos “tomar medidas racionais”, o presidente não determinou a proibição de ingresso no território nacional de pessoas vindas de países com casos confirmados. Ele também mostrou-se contrário a restrições contra argentinos que cheguem ao Brasil por via terrestre. Ele chamou ainda de "loucura" impor controle nos aeroportos.
Impacto econômico da Ômicron
As principais bolsas de valores do mundo fecharam em queda nesta sexta-feira (26) por conta do anúncio da nova variante do Sars-Cov-2 que pode ser altamente contagiosa. Em Paris a queda foi de 4,68%, em Frankfurt de 3,80%, em Londres chegou a 3,51%, enquanto o Dow Jones, em Nova York, registrou uma baixa de 2,53%, acompanhando a bolsa eletrônica Nasdaq Composite, que teve recuo de 2,23%. O barril Brent, de petróleo, sofreu queda de 11,6% e encerrou o dia cotado a US$72,72.