Vitorioso na eleição de 26 de setembro de 2021, o Partido Social-Democrata Alemão (SPD) conseguiu nesta quarta-feira (24), após 2 meses de negociações, concluir seu acordo com o Partido Verde (Grüne) e o Partido Liberal-Democrata (FDP) - formando assim a chamada coalizão “Semáforo”.
Na prática, a maior economia europeia deve ter um novo governo aprovado pelo parlamento na primeira semana de dezembro, acabando de vez com a chamada “Era Merkel”. Mas, isso já não é mais novidade.
As questões colocadas agora recaem sobre as expectativas futuras (para Alemanha e a Europa) com um governo mais à esquerda. Muitos analistas políticos creem que esse será um marco importante para geopolítica mundial e também para o campo progressista.
Visto como um político discreto e moderado de centro-esquerda, o advogado trabalhista Olaf Scholz, 63, que é o atual Ministro de Finanças do país, apresentou ao público um programa de governo com 177 páginas que tem como eixo central a “Ousadia para progredir”.
Parafraseando um dos maiores ícones da história política alemã, Willy Brandt, que cunhou o lema “Queremos mais democracia!”, Scholz defendeu, na coletiva de imprensa que apresentou o programa de governo, a abertura de um novo tempo de progresso, pautado na “liberdade, na justiça social e na sustentabilidade”.
Mais do que um novo tempo, o provável futuro Chanceler promete retomar uma forte política social-democrata com grandes investimentos em infraestrutura e na defesa climática. Em uma aliança “quase” inédita, o ex-prefeito de Hamburgo terá o desafio de conciliar aliados vistos como inconciliáveis por muitos.
Sem a participação dos conservadores do CDU/CSU, o novo governo promete respeitar uma paridade de gênero entre seus componentes e deve estar dividido entre as 3 forças políticas da seguinte maneira:
- 7 ministérios para o SPD (Chanceler, Trabalho e Assuntos Sociais, Defesa, Interior, Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Habitação e Saúde);
- 5 para os Verdes (Relações Exteriores, Família, Meio Ambiente, Alimentação e Agricultura, Economia e Defesa Climática);
- 4 para os Liberais (Finanças, Justiça, Educação e Transporte).
Dentre as principais propostas estão:
Voto aos 16 anos; legalização da maconha; cidadania para imigrantes em 5 anos; 400 mil moradias por ano; Controle dos preços dos aluguéis; valorização do salário-mínimo por hora para 12 euros; combate à pobreza infantil; subsídios para aquecimento residencial; Europa forte e soberana; expansão de energias renováveis, com 80% do consumo de energia feito através de matrizes como solar, eólica ou hidrogênica, um terço dos carros totalmente elétricos e o abandono do carvão até 2030 e do gás até 2040.
Algumas dessas propostas polêmicas devem vir do lado Verde e em conflito com os “Amarelos” (liberais), já que os mesmos - mais próximos do empresariado - devem ficar com a chave do cofre. Christian Lindner, dirigente liberal, é o mais cotado para ser o Ministro de Finanças.
Em especial, no plano de relações exteriores - caso a dirigente ecologista Annalena Baerbock seja confirmada no posto - as dúvidas recaem sobre como será o comportamento em temas delicados para o governo alemão, como Rússia, Belarus, Polônia, Hungria, China e EUA. Ainda na oposição, o partido tem feito duras críticas aos governantes dos países citados e ao pragmatismo de Merkel.
Por fim, herdando um grande problema, o novo governo promete investimentos de aproximadamente 1 bilhão de euros para a saúde e medidas mais duras para enfrentar a 4ª onda da pandemia da Covid-19 liderada pelo negacionismo científico, em especial em estados governados pela extrema-direita (AFD).