EXCLUSIVO: Hebe de Bonafini defende legado de Lula e prega maior mobilização no Brasil

A líder das Mães da Praça de Maio concedeu entrevista exclusiva ao programa Fórum América Latina, que vai ao ar na próxima segunda; confira um trecho

Hebe de Bonafini durante entrevista ao Fórum América Latina
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Movimento histórico de luta pelos direitos humanos na Argentina, as Mães da Praça de Maio tiveram que se adaptar à situação da pandemia do novo coronavírus e abandonar as tradicionais rondas ao redor da Praça de Maio. Desde o início da pandemia, a incansável Hebe de Bonafini, líder das 'Madres', de 92 anos, teve que trocar a movimentação na rua pelas lives. Entre um compromisso virtual e outro, ela teve tempo de falar com o Fórum América Latina.

Uma eterna inconformada, Bonafini não está totalmente satisfeita com o governo de Alberto Fernández e prega que o presidente dê mais ouvidos às demandas da população e menos aos empresários, que ela classifica como inimigos. Para ela, Fernández é um peronista "muy medido", muito moderado, bem diferente de Juan Perón, Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner.

Apesar de saudar a aprovação da Lei do Aborto e o papel que o mandatário teve na garantia de direitos ao ex-presidente boliviano Evo Morales, Bonafini cobra uma reforma judicial no país desde o início do mandato e considera que essa foi a principal ausência do primeiro ano de governo da Frente de Todos, formada por Fernández e pela vice-presidente Cristina Kirchner.

O apelo por mais mobilização e o inconformismo também transparece quando Bonafini comenta sobre a situação do Brasil. A madre diz não entender como o Brasil não tem o mesmo espírito de mobilização que a Argentina e, de forma sutil, defende a volta de Lula e cobra que os agentes políticos do país atuem mais próximos da população.

"O que fez Lula foi uma maravilha, depois veio Dilma. Como o povo não se lembrou do que fez Lula? Por que não voltou a votar [no PT]? Isso eu não entendo. Me parece que não voltou a votar porque não sabiam, não estão ‘preparados’… Não sei como dizer isso", declarou em trecho da entrevista à Fórum.

A "preparação" que Hebe fala perpassa a atuação dos atores políticos. Em uma crítica velada à esquerda brasileira, ela diz o seguinte: "Às vezes para que a população vá votar é preciso que você esteja muito tempo antes falando com as pessoas, explicando o que está acontecendo, porque um é melhor, outro não, fazer atos nas praças. Aqui, por exemplo, há uma quantidade enorme de rádios pequenas, dos bairros, que educam um montão".

"O que fazia Perón, que não parecia política, era a melhor política. Ensinar a população quais eram seus direitos. E isso é o que parece faltar no povo do Brasil, a população mais simples do Brasil precisa saber quais são seus direitos para que possam reivindicar, sair às ruas, para que sintam que também possuem esses direitos. Quanto mais ignorante o povo, melhor para os ricos, porque podem explorá-los com mais facilidade", declarou.

Madres de La Plaza

A ronda na Praça de Maio, em Buenos Aires foi o principal instrumento usado pelas Madres na luta contra a ditadura militar iniciada em 1976, conhecida como Ditadura do Terrorismo de Estado. Ao marchar pelo centro do quarteirão que reúne a Casa Rosada (sede do governo), a sede do Banco de La Nación e a Catedral de Buenos, foi visibilizada a demanda sobre os mais de 30 mil desaparecidos na ditadura.

Agora, a "ronda" é virtual. "Nós estamos uma batalha muito grande, não deixamos de lutar... As Madres tivemos que nos reinventar. Isso que eu faço é da cozinha da minha casa, com umas pilhas de livro, equilibrando o telefone, tentando focar... Todas essas coisas que tive que aprender aos 92 anos", disse à Fórum.

Entrevista completa

A entrevista completa, que fala ainda sobre o plebiscito constitucional do Chile, o retorno do MAS, de Evo Morales, à Bolívia, a continuidade do chavismo na Venezuela, a possível volta do correísmo no Equador, e as lutas dessa nova década, pode ser assistida no próximo Fórum América Latina, que vai ao ar na segunda-feira (11), às 20h, no canal de YouTube da Revista Fórum.

O programa é comandado pelos jornalistas Lucas Rocha e Rogério Tomaz e ainda contará com a participação da cientista política Talita Tanscheit e do jornalista Fabián Restivo, que irão comentar sobre a fala da líder argentina e fazer um balanço sobre o 2020 da região.

Confira um trecho da entrevista de Hebe de Bonafini, legendado por Lucas Rocha e Rogério Tomaz Jr.:

https://twitter.com/revistaforum/status/1347679768100171778
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