Prestes a perder seu único cargo, Juan Guaidó tenta último golpe com a ajuda dos EUA

Líder opositor deixará de ser deputado na Venezuela nesta terça, quando a Assembleia Nacional do país oficializará a posse dos 277 parlamentares eleitos em 2020, em eleição na que ele decidiu boicotar

Juan Guaidó (Reprodução)
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Está cada vez mais difícil para o líder opositor venezuelano Juan Guaidó insistir na estratégia de se autodenominar presidente interino da Venezuela. Nesta terça-feira (5), por exemplo, ele deixará de ser membro da Assembleia Nacional da Venezuela, já que não participou das eleições legislativas de 2020, nas quais foram eleitos os 277 parlamentares que tomarão posse amanhã.

A não continuidade de Guaidó na Assembleia enfraquece ainda mais sua narrativa. Afinal, sua autoproclamação como presidente do país se baseava no fato de ele ser presidente da Assembleia Nacional (unicameral). Esse fato em si já estava em dúvida desde janeiro de 2020, quando ele perdeu a reeleição à presidência da casa para o opositor moderado Luis Eduardo Parra – depois, desconheceu o resultado e criou uma mesa diretora paralela no Legislativo.

Agora, a situação é ainda mais evidente, já que Guaidó deixará de ser deputado nesta terça. O líder da oposição mais agressiva ao governo do presidente Nicolás Maduro boicotou as eleições legislativas de 2020, as quais acusou de fraudulentas. Contudo, o fato é que o pleito aconteceu, e como ele não participou, tampouco pode ser reeleito.

Sua última cartada, ainda baseada no discurso da ilegalidade das eleições legislativas de 2020, é tentar impor uma nova tese, de que os deputados eleitos em 2015 devem continuar na Assembleia Nacional.

Uma proposta que expõe uma contradição, já que o opositor venezuelano acusa Maduro de ser um ditador que quer se eternizar no poder, mas essa iniciativa também visa manter no Poder Legislativo um grupo de deputados cujo mandato conquistado há 6 anos atrás, já expirou – exceto para aqueles que romperam com Guaidó, disputaram sua reeleição em dezembro passado e a conseguiram.

Aliás, até mesmo pessoas que não foram reeleitas em dezembro estão se afastando de Guaidó nos últimos dias. É o caso da deputada Marialbert Barrios, do partido Primero Justicia, que também perderá seu cargo nesta terça.

“Hoje fecho um ciclo. Continuo empenhado no progresso do meu país, desde as minhas trincheiras de militante e cidadão”, afirmou a legisladora, reconhecendo que deixará sua cadeira na Assembleia Nacional, e que, portanto, não seguirá o discurso de Guaidó de desconhecer as eleições de 2020.

Outros parlamentares opositores que não foram reeleitos em 2020, mas que aceitaram a perda do mandato são Larissa González, Carlos Prosperi, Piero Maroun, Delsa Solórzano e Ángel Medina Devis.

Mas Guaidó ainda mantém um aliado na manga para defender sua estratégia: os Estados Unidos. O Departamento do Tesouro norte-americano emitiu, nesta segunda-feira (4), uma licença que permite aos cidadãos do país realizar transações com a Assembleia Nacional paralela, baseada na formação de 2016, que Guaidó pretende manter em ação.

No entanto, não se sabe se tal licença, que está sendo outorgada pelo governo de Donald Trump, será mantida durante a gestão de Joe Biden, cuja posse na Casa Branca deveria acontecer no dia 20 de janeiro.

Em entrevistas, Biden vem afirmando que pretende iniciar um diálogo com presidente venezuelano Nicolás Maduro e melhorar as relações da Casa Branca com o país sul-americano.