Reino Unido decidirá destino de Julian Assange nesta segunda; entenda o caso

Países desenvolvidos costumam questionar o respeito à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa em outras latitudes, mas agora, dois deles (Reino Unido e Estados Unidos) deverão mostrar se defendem mesmo esses princípios

Protesto contra a extradição de Julian Assange (foto: IFJ / International Federation of Journalists)
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Nesta segunda-feira (4), a juíza britânica Vanessa Baraitser, do Tribunal de Old Bailey, decidirá se o ativista australiano Julian Assange, criador do WikiLeaks, será ou não extraditado para os Estados Unidos, país que pretende julgá-lo por crimes contra a segurança nacional, e onde pode enfrentar pena de prisão perpétua.

O julgamento de Assange durou cerca de quatro semanas e terminou no início de outubro. A acusação, representada pelos promotores estadunidenses James Lewis e Clair Dobbin baseou seu argumento em uma suposta conspiração de Assange com a ex-soldado Chelsea Manning em 2010 para revelar informações confidenciais que expunham vários crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos nas guerras que promoviam no Iraque e no Afeganistão.

Um dos argumentos usados ??pelos Estados Unidos é que Assange teria colocado milhares de agentes do governo norte-americano em perigo, algo que foi negado pela defesa do acusado. Reunidas, as várias denúncias contra Assange na Justiça estadunidense podem render uma sentença de até 175 anos de prisão, o que seria equivalente a uma prisão perpétua.

https://twitter.com/wikileaks/status/1345744217499455492

No entanto, vale lembrar que a detenção de Julian Assange foi uma armação desde o começo. Inicialmente, o ativista de 49 anos havia sido acusado por um suposto crime de abuso sexual, o qual teria sido cometido na Suécia, em 2010.

A denúncia contra ele aconteceu em agosto de 2010, pouco mais de um mês depois da revelação dos segredos diplomáticos estadunidenses por parte do WikiLeaks. Também foi baseada nessa denúncia que ele foi preso pela polícia do Reino Unido, em abril de 2019 – após sete anos em asilo político na Embaixada do Equador em Londres, benefício que recebeu do ex-presidente Rafael Correa, mas que foi cancelado pelo sucessor, Lenín Moreno.

No entanto, não é a Suécia a responsável por pedir a extradição de Assange. Até porque a justiça sueca arquivou a denúncia contra o ativista, por falta de provas.

Tal situação criou um constrangimento para os Estados Unidos, e principalmente para o Reino Unido, já que deixou exposta a armação para levar Assange a um processo que coloca em xeque o respeito desses países a princípios como a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa – que, diga-se de passagem, ambos costumam reclamar quando se trata de nações que consideram inimigas.

https://twitter.com/wikileaks/status/1345705113437003776

A defesa de Julian Assange, liderada pelos advogados Mark Summers e Edward Fitzgerald, alegou que há também “motivações ideológicas” na perseguição a Assange. Segundo eles, não há nenhuma garantia de que o australiano possa ter um julgamento justo nos Estados Unidos.

A maior parte da imprensa internacional aposta em uma decisão favorável à extradição, devido à postura da juíza Vanessa Baraitser, que tem demonstrado, até o momento, ser bastante implacável com os argumentos da defesa – inclusive levando alguns analistas a comparar com a postura de Sérgio Moro para com o caso do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que, diga-se de passagem, é um dos maiores aliados internacionais da campanha pela liberdade de Assange.

Entre as várias medidas de Baraitser que causaram polêmica, está a negativa dela em conceder liberdade sob fiança pelo risco de contágio por coronavírus e o fato de ela ignorar várias denúncias de diversas organizações internacionais a respeito da falta de pleno contato do ativista com seus advogados – característica que mais aproxima o caso de Assange com o de Lula.