Começou nesta terça-feira (26) mais um julgamento do ex-ditador peruano Alberto Fujimori, desta vez devido aos resultados do chamado Plano Nacional de Planejamento Familiar, implementado por seu governo, que obrigava mulheres a passar por cirurgias de esterilização.
Segundo dados levantados pela Ouvidoria Nacional Peruana, entre os 1990 e 2000, o governo peruano registrou mais de 350 mil denúncias de mulheres que haviam sido obrigadas a passar por cirurgia de laqueadura. Também foram registrados casos de homens obrigados a fazer vasectomia, mas em número muitíssimo menor: cerca de 26 mil.
As vítimas do programa fujimorista obedecem a um padrão específico: todas eram de classes baixas, das favelas de Lima ou de cidades pobres do interior do Peru.
Outro ponto em comum dos relatos é o fato de que os agentes do governo não informavam às vítimas sobre a operação que seria realizada: as encaminhavam para o que chamavam de “controle de saúde”, no qual a pessoa era sedada e operada sem o seu consentimento.
Além das vítimas, a Procuradoria Geral do Peru conta com testemunhos de enfermeiras que alegam ter sido obrigadas a participar do programa – algumas que se recusaram a fazê-lo teriam sido multadas e até presas.
A líder indígena e ex-deputada progressista Tania Pariona será uma das testemunhas. Ela assegura ter provas de que “havia inclusive um prêmio em dinheiro para autoridades regionais, o governo pagava 30 dólares por cada mulher esterilizada”.
Alberto Fujimori foi eleito presidente em 1990, mas deu um autogolpe em 1992. Ele dissolveu o Congresso, a Suprema Corte de Justiça e o Ministério Público, com a ajuda das Forças Armadas, e com isso conseguiu se manter no poder até o ano 2000, quando uma série de escândalos de corrupção o obrigaram a fugir do país.
Um dos principais aliados internacionais de Fujimori foi o então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), que chegou a condecorá-lo com a Ordem do Cruzeiro do Sul, em 1999 – quando o ditador peruano estava há 7 anos no poder e já era alvo das primeiras denúncias de corrupção que terminariam com sua dinastia.
Ironicamente, o líder tucano também escreveu artigos comparando se outrora amigo peruano ao seu arquirrival político, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que nunca teve ligação com o fujimorismo.
Quando Lula assumiu o poder, em 2003, Fujimori estava em asilo político no Japão. Em 2005, ele localizado no Chile, acabou preso e foi extraditado dois anos depois. Em 2010, recebeu a primeira de três sentenças judiciais por prisão perpétua, por crimes de corrupção e violações aos direitos humanos.
Fujimori tem perfil ideológico muito parecido com várias figuras da direita brasileira: conservador nos costumes e neoliberal na economia. Atualmente, ele tem 82 anos e se encontra em um presídio de segurança máxima.