O escritor Fernando Morais escreveu um relato de como foi o tratamento recebido em Cuba, onde ele e outras pessoas que viajavam com Lula foram diagnosticadas com Covid-19. Eles viajaram ao país no final de dezembro onde o ex-presidente filmaria um documentário dirigido pelo diretor norte-americano Oliver Stone. Fernando Morais foi o único que chegou a ficar internado.
"Nada do que fizemos ou viermos a fazer por Cuba e pela Revolução Cubana retribuirá, nem minimamente, o zelo científico e o carinho com que fomos tratados pelos profissionais de saúde ao sermos identificados como positivos para o Covid-19. Sei que não falo apenas por mim, mas por todo o grupo que acompanhou o ex-presidente Lula na viagem de trabalho que fizemos àquele país entre dezembro e janeiro. Estamos todos curados, negativos, sem sequelas e cada um de novo em suas atividades", disse Morais.
Ele ainda destacou que o tratamento foi o mesmo que qualquer cubano receberia. "Mas como outra epidemia grassa pelo Brasil, a do anticomunismo, não faltará quem diga que recebemos tratamento privilegiado, já que o grupo era encabeçado por um ex-presidente da República. É o mesmo pessoal que dizia que a Revolução Cubana ia evaporar depois do fim da União Soviética."
Em vez de gastar parágrafos para convencer os anticomunitas, Morais traz números da Escola Superior Dom Helder Câmara, em Minas, para comparar os resultados da ilha com os do Brasil no combate ao coronavírus. "São dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que comparam o desempenho de Cuba, na guerra ao Covid, com os do Brasil, da América Latina e mundo como um todo."
Segundo os dados, enquanto Cuba tem 1.062 infectados por milhão de habitantes, totalizando 11.687 casos, entre março e dezembro de 2020, o Brasil teve 35.510 infectados por milhão, com mais de 7,5 milhões no total. Já em relação ao número de mortos, foram 13 mortes por milhão em Cuba, um total de 147 mortos. No Brasil, foram 905 mortes por milhão, 192.681 até dezembro do ano passado.
Fernando Morais é autor do livro A Ilha, sobre Cuba, lançado na década de 1970, e também escreveu Os últimos Soldados da Guerra Fria, que conta a história de cinco agentes secretos cubanos que ficaram presos nos Estados Unidos, editado pela Companhia das Letras. Este livro virou filme na Netflix: “Wasp Network”, dirigido por Olivier Assayas.
O escritor também relatou o diálogo que teve com um médico que o tratou durante a viagem a Cuba:
Quase sussurrando, perguntei ao doutor Becerra, que me atendia no hospital público do Instituto de Medicina Tropical Pedro Kouri, em Havana:
- Doutor, seja sincero. De comuna para comuna: o senhor acha que vou morrer de Covid?
Sem interromper o trabalho de injetar um líquido amarelado na cânula de um microgotas metálico, Becerra escancarou não um sorriso, mas um teclado de dentes alvos como algodão:
- Coño, bracileiro, se seus planos são esses, você bateu na porta errada. Cuba não é um lugar pra se morrer. Cuba é bom pra quem gosta de viver.