O bilionário americano Charles Koch, financiador de causas conservadoras, entre elas o Tea Party, nos EUA, acaba de publicar o livro “Believe in People” (Acredite nas pessoas), onde resolveu assumir seus erros.
No livro, Koch fala sobre como o sectarismo empurra os partidos para extremos, com ideologias e políticas que são destrutivas. E pergunta: “A América pode sobreviver como país se nossos cidadãos desprezam uns aos outros?”
O bilionário, ao lado de seu irmão David, que morreu em 2019, gastou bilhões de dólares com doações de campanha para candidatos conservadores e organizações políticas de direita, como o Americans for Prosperity, e think tanks na mesma linha.
Donos da Koch Industries, conglomerado de indústrias químicas e de energia que são um dos maiores poluidores dos EUA, os irmãos financiaram alguns dos maiores céticos sobre o aquecimento global. Além disso, gastaram milhões para eleger políticos que defendem a desregulamentação, redução de impostos para empresas, enfraquecimento de sindicatos, oposição a legislação de controle das armas e ao sistema de saúde público.
“Nós apostamos no time que parecia ter mais políticas que permitiriam às pessoas melhorarem suas vidas. Só temos duas alternativas no nosso sistema, e escolhemos a vermelha (republicanos)”, escreveu no livro.
O empresário diz ainda que quando se deram conta de que haviam errado, mudaram a abordagem.
“Agora trabalhamos com pessoas do time vermelho, do time azul, e sem time nenhum; abandonamos o partidarismo e optamos por parceria”, diz.
Tudo leva a crer que o mea culpa de Koch é puro jogo de retórica. Em 2020, o comitê de ação política das indústrias Koch e seus funcionários doaram US$ 2,8 milhões a candidatos republicanos na campanha e somente US$ 221 mil para democratas, segundo o Center for Responsive Politics.
Além disso, ele doou quase US$ 500 mil para David Perdue, que disputará o segundo turno para uma vaga no Senado com o democrata Jon Ossof em janeiro. Perdue é um dos republicanos que continuam questionando a legitimidade da eleição presidencial.
Com se isso não bastase, Koch ainda fez uma brincadeira racista para se referir a Kamala Harris em comício em outubro, dizendo que não sabia como pronunciar o nome dela.
A jornalista da New Yorker, Jane Mayer, que escreveu sobre os irmãos Koch, não engole a suposta conversão do bilionário:
“Basicamente, a cada dois anos, os Koch tentam fazer um rebranding, fazem uma ofensiva de charme sempre que há eleições, dizendo que, na realidade, não são partidários, só estão trabalhando pelo bem geral. Nesta altura, tendo ouvido a mesma coisa a cada dois anos, estar das pessoas, seria preciso sofrer de amnésia para acreditar nisso”, disse em entrevista à TV NBC.
Com informações da repórter Patrícia Campos Mello, na Folha