A realeza britânica, pelo visto, já está garantida. E os plebeus do Texas? É para eles que a campanha de Joe Biden precisa voltar os olhos, com urgência, se quiser de fato vencer as eleições. Quem dá o alerta é Beto O’Rouke, uma estrela em ascensão no partido. Prince Harry e Meghan Markle declararam apoio cifrado a Biden esta semana. Mas o que ele precisa mesmo é dos votos dos latinos do Texas que estão disponíveis para quem tiver disposição de brigar por eles.
Há dois anos o jovem democrata Beto O’Rouke, de 44 anos, quase foi eleito senador pelo Texas em uma disputa com o republicano Ted Cruz. Beto perdeu por apenas 3 pontos percentuais. Esse ano ele foi pré-candidato a presidente. Participou de debates. Se tornou ainda mais conhecido.
No processo, os seis mil voluntários da campanha de Beto registraram 80 mil novos eleitores no Texas. E mais: depois da derrota, 2 milhões de eleitores se registraram para votar no estado. Ficou no ar o sentimento de que é preciso se envolver com o processo para garantir resultados. Isso significa um potencial eleitoral decisivo já que as pesquisas apontam uma diferença estatística insignificante entre Trump e Biden. E nas eleições locais, os democratas tomaram 12 cadeiras dos republicanos na assembleia legislativa, em 2018. Os ventos estão soprando a favor dos democratas no estado tradicionalmente conhecido como republicano.
Colocar o Texas na fileira democrata e ganhar os 39 votos no colégio eleitoral que o estado tem (só a Califórnia tem mais, com 55), seria uma cartada decisiva para acabar com qualquer tentativa de contestar o resultado da eleição, como Trump ensaia fazer.
O senador Bernie Sanders está alertando para o risco de uma ruptura democrática, de um cenário de pesadelo, caso Trump encontre espaço para duvidar do resultado das urnas e tentar alguma manobra para suspender a contagem dos votos que promete ser lenta, com muitas cédulas enviadas pelo correio.
Mais lenta ainda tem sido a campanha de Biden no esforço de ganhar os votos decisivos nessa disputa. Beto esteve na região do Texas que ele vê como a mais promissora para os democratas. O vale do Rio Grande. Justamente a fronteira do estado com o México. Ali vive o eleitorado que mais sofreu com os quatro anos de Trump na Casa Branca. São imigrantes que viram famílias separadas na fronteira. Crianças trancafiadas em jaulas, sozinhas, enquanto os pais eram enviados para presídios e tribunais. Em muitos casos, foram até deportados enquanto os filhos permaneciam enjaulados.
É verdade que a política de separação de famílias na fronteira começou no governo de Barack Obama. Mas ela se intensificou e se tornou mais rígida com Trump. E foi o atual presidente que se elegeu prometendo construir um muro entre México e Estados Unidos. Mas o que espantou Beto, nessa visita, foi constatar que o eleitorado latino ali não foi contatado por ninguém. Nem democratas nem republicanos.
A campanha eleitoral não passou pela fronteira. E ele aposta que um pouco de tempo e dinheiro investidos na área podem selar a vitória de Biden e deixar Trump mudo. Mas alerta que o tempo está se esgotando. Ele colocou os seis mil voluntários que tem, já organizados, à disposição. Mas por enquanto, nem sinal de Biden.
O democrata recebeu essa semana o apoio de Cindy McCain, viúva o senador John McCain que foi candidato a presidente. Os McCain são populares no Arizona. Um estado que pode dar votos a Biden no colégio eleitoral. Na revista Time, que colocou Felipe Neto como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo este ano, também está o casal real britânico que agora vive na Califórnia.
Prince Harry e Meghan Markle aproveitaram a deixa para incentivar os americanos a exercerem o direito do voto e, de preferência, rejeitarem o discurso de ódio, a desinformação e a negatividade que impera online. Muito simpático, mas na real, cortejar os desconhecidos que falam espanhol no sul do Texas seria bem mais eficaz para Biden.