O ator americano Leonardo DiCaprio publicou em sua conta no Instagram dados de uma organização chamada Observatório de Serviços Públicos da Venezuela, com os quais acusa o governo de Nicolás Maduro de deixar “86% dos venezuelanos com um serviço de água potável que não é confiável”.
Não é a primeira vez que o artista faz comentários sobre o país sul-americano. Tampouco é a primeira vez neste 2020. Em janeiro, ele publicou uma fotografia de indígenas venezuelanos para promover o trabalho da Wataniba uma ONG que afirma fazer um trabalho “socioambiental e de proteção da floresta, ameaçada pela mineração de ouro”, segundo a descrição do próprio DiCaprio, em entrevista recente à agência Associated Press.
No entanto, o ator omitiu o fato de que a Wataniba também é uma operadora política que tenta canalizar apoio dos grupos ambientalistas na Venezuela e no mundo em favor da direta venezuelana.
O diretor operacional da organização, Luis Jesús Bello é ligado a partidos que defendem o golpe de Estado contra Maduro, e costuma dizer que o “ouro que contamina o sangue dos venezuelanos é um crime contra a humanidade criado por este governo”. A mineração de ouro na Venezuela, no entanto, é uma atividade que existe inclusive antes da chegada de Hugo Chávez ao poder.
O apoio de uma figura reconhecida por seu ativismo ambiental à causa de derrubada do governo venezuelano é lida por alguns analistas como um elemento da guerra cultural contra um dos inimigos prioritários dos Estados Unidos nos últimos anos – coincidência ou não, se trata do país com as maiores reservas de petróleo do mundo.
Entre esses analistas está Fidel Barbarito, diretor da Universidade de Artes da Venezuela, que fala em uma decadência do modelo civilizador da modernidade, “e isso faz com que esse mesmo modelo, na hora de defender seus interesses, que estão sendo severamente questionados está em todo o planeta, tenha que apelar a figuras como DiCaprio, capazes de disfarçar a guerra pelo petróleo com um verniz socioambiental”.
“DiCaprio é o típico socialista burguês, para usar um termo criado por Christopher Caudwell (escritor marxista britânico). Está familiarizado com um certo pensamento que consegue criticar a sociedade moderna tão gradualmente que, apesar de desejar certas mudanças, é contra quem se atreve a fazer mais que dizer palavras bonitas ao vento”.