Apenas 34 dias. Foi o tempo em que os saudosos da ditadura chilena puderam celebrar o fato de que, pela primeira vez em mais de 30, havia alguém com o sobrenome Pinochet no governo. Nesta terça-feira (9), Macarena Santelices, sobrinha-neta do ditador, renunciou ao cargo de ministra da Mulher, que ela ocupou durante pouco mais de um mês.
Ao sair do cargo, a agora ex-ministra acusou os movimentos feministas pelo seu desgaste, e reclamou que essas organizações possuem “viés ideológico”.
“No dia em que se entenda que a causa das mulheres não deve ter lado político, que deve ser de todas e para todas, poderemos avançar. Por minha lealdade ao presidente Sebastián Piñera, ao país e às chilenas, decido me afastar, mas meu compromisso será sempre com o serviço público”, declarou Santelices aos meios locais.
Na verdade, ela não suportou a pressão após uma campanha criada por seu Ministério contra a violência de gênero, mas que era baseada em um vídeo de um senhor idoso pedindo desculpas à sua neta por ter sido um marido abusivo com a já falecida esposa, avó da menina. Os movimentos denunciaram a campanha por querer vitimizar os agressores e “reforçar um imaginário de empatia e impunidade com os violentos”.
Ainda nesta terça, Piñera nomeou a nova titular do Ministério da Mulher. Se trata de Mónica Zalaquett, também do partido UDI (União Democrata Independente), que é vinculado historicamente com o ditador, embora ela pessoalmente não tenha vínculos familiares, como sua antecessora. Zalaquett é ex-deputada, mas estava sem mandato no Congresso. Nos últimos meses, se desempenhava como subsecretária de Turismo.
Os movimentos feministas chilenos já declararam seu repúdio à nomeação de Zalaquett ao cargo, lembrando de ao menos dois de seus votos durante seu tempo como parlamentar: ela foi contra o projeto de legalização do aborto promovido pelo governo anterior, de Michelle Bachelet (que só descriminalizou o ato em casos específicos, como risco de vida para a mãe, inviabilidade fetal e gravidez como fruto de violência sexual), e também foi contra o projeto de ampliar o período pós-natal remunerado para seis meses.