Embora não apareça nos noticiários, o Chile tem se transformado, aos poucos, sem fazer alarde, em um dos países mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. O país já é o sétimo do mundo com maior número de casos de covid-19 no mundo, e está ainda pior em termos proporcionais, já que é o de menor população (18 milhões de habitantes) entre os 10 mais afetados.
Diante dessa situação, o presidente Sebastián Piñera, que vem enfrentando sérios problemas políticos desde a revolta social iniciada no país em outubro de 2019, decidiu comprar uma briga com o Poder Legislativo.
Ao melhor estilo Jair Bolsonaro (um dos seus principais aliados na região), Piñera anunciou que criará uma comissão cuja tarefa será “avaliar a admissibilidade das iniciativas do Congresso Nacional”. Em outras palavras, leis aprovadas no Congresso sem o consentimento do Poder Executivo receberão veto antes mesmo de tramitar entre os deputados e senadores.
Assim, o presidente boicotaria de antemão algumas medidas que vêm causando moléstia na direita neoliberal que governa o país – como, por exemplo, a iniciativa da Frente Ampla e do Partido Comunista de criar um imposto sobre grandes fortunas transitório durante a quarentena, para financiar a ajuda social à população mais carente.
Diversos partidos e movimentos sociais reagiram de forma indignada à proposta de Piñera. A Mesa de Unidade Social, entidade surgida das revoltas sociais de 2019 e que reúne diferentes movimentos sociais antifascistas e antineoliberais, publicou um comunicado dizendo que a proposta do presidente “flerta com um modelo de democracia autoritária que tem cada vez menos de democrático e cada vez mais de autoritário”.
Já a jornalista Beatriz Sánchez, candidata presidencial da Frente Ampla em 2017 e uma das principais líderes da esquerda no Chile, disse que “o presidente Piñera tem o dever constitucional de honrar a democracia e a igualdade dos poderes diante da lei, assim como o de proteger os cidadãos em tempos de crise, e não está fazendo nem uma coisa nem outra”.