Nesta terça-feira (5), o presidente do Chile, Sebastián Piñera, nomeou a jornalista Macarena Santelices como a nova titular do Ministério da Mulher e da Igualdade de Gênero.
Santelices é ex-prefeita da cidade de Olmué, e militante do partido ultraconservador UDI (União Democrata Independente). Contudo, o que mais chamou a atenção sobre sua nomeação é o seu parentesco: ela é sobrinha-neta do falecido ditador Augusto Pinochet (1973-1990), que era irmão da sua avó.
Os coletivos feministas do Chile não tardaram em reagir à nomeação, e de forma negativa. A Coordenadora Feminista 8M, principal entidade do país ligada à causa, foi a primeira em demonstrar seu repúdio a Santelices. Segundo a porta-voz Javiera Manzi, “esta é uma nomeação que aprofunda a política negacionista do governo Sebastián Piñera com relação aos direitos humanos e à violência contra a mulher, com uma figura que personifica a defesa do legado ditatorial. Sem dúvida, isso é uma afronta e provocação ao movimento feminista e à memória histórica do povo”.
A crítica das feministas está baseada, além do parentesco com o ditador, em diversas declarações antigas de Santelices, criticando as marchas pelo direito ao aborto livre e outras iniciativas. Em março de 2019, ela chegou a dizer que “o movimento feminista não representa todas as mulheres, talvez nem metade delas”.
Agora, como ministra, Macarena Santelices tentou consertar aquela frase, mas não muito. Em uma de suas primeiras entrevistas após a nomeação, para o canal local Chilevisión, disse que “agora serei a ministra de todas as mulheres chilenas, as que são feministas e as que não são, e tenho que fazer políticas pensando em ambos os setores”.
Também afirmou que, embora seja uma mulher conservadora, “meu trabalho será marcado por uma política sem viés ideológico, por isso peço que me julguem pelo que vou dizer e fazer daqui por diante, não pelo passado”.
Sobre seu vínculo familiar com o ex-ditador, ela assegura que não teve muito contato com ele. “Eu o vi em algumas poucas reuniões familiares, mas isso não me impede ser crítica de algumas coisas do seu governo. Por exemplo, hoje em dia não se pode negar que houve violações aos direitos humanos, embora também devemos reconhecer seu mérito em recuperar a economia do país”, comentou a nova minista, desconhecendo que esta suposta recuperação é justamente o que vem sendo questionado desde a revolta social de outubro de 2019.
A nomeação de Santelices veio após outra polêmica: o fato de que o país passou 54 dias sem uma ministra da Mulher, desde a renúncia da última ocupante do cargo, Isabel Plá.
A antecessora não suportou ser a principal criticada na multitudinária marcha de 8 de março, quando o movimento feminista chileno mobilizou mais de 3 milhões de mulheres em todo o país, contra a sua gestão, também considerada antifeminista.