A votação de uma nova lei de segurança nacional pelo parlamento chinês virou destaque nos principais jornais do mundo e esquentou a polêmica relação entre Pequim e Hong Kong essa semana.
Como sabemos, Hong Kong é uma cidade que foi devolvida à administração chinesa (1997) após 156 anos de regime colonial britânico. Essa história com raízes fincadas no fim das Guerras do Ópio, sempre foi contestada pela República Popular da China (desde de sua fundação – em 1949).
Com todas as suas contradições, Hong Kong é hoje um poderoso porto comercial e financeiro, com alto volume de investimentos estrangeiros diretos e posição estratégica. Com a sexta maior Bolsa de Valores do mundo, é um ponto estratégico para grandes corporações multinacionais e interesses ocidentais.
É a partir da importância desses fatos, da história e do contexto atual, que devemos ler os protestos que tomaram a cidade em 2019, bem como a aprovação - agora - da nova lei de segurança nacional pelo Congresso Nacional do Povo chinês (parlamento).
Os críticos apontam um ataque aos direitos do povo e a autonomia das instituições de Hong Kong - que goza de um status especial - “Um país, dois sistemas”. Pequim aponta a manutenção da soberania nacional e a ordem no território, como modo de prevenir ações terroristas, independentistas ou insufladas por interferência internacional.
O Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido da Grã-Bretanha declarou estar “seguindo os comunicados e monitorando a situação de perto”. Comunicou ainda que “espera que a China respeite os direitos, liberdades e alto nível de autonomia de Hong Kong”.
Por outro lado, em seu pronunciamento ao parlamento, o primeiro ministro chinês, Li Keqiang, destacou a idéia de “estabelecer sistemas legais e a efetivação de mecanismos para garantir a segurança nacional nas duas regiões administrativas especiais” - nesse caso Macau e Hong Kong.
Na sexta-feira (22), o governo de Hong Kong disse cooperará para aprovação da lei, que isso ajudará a lidar com atividades ilegais e que a mesma não prejudicará os direitos civis e políticos conquistados; a Bolsa Hang Seng de Hong Kong caiu 5%.
Tal medida contestada por grande parte da mídia ocidental e “ditos” defensores da democracia, deve instituir uma agência especial controlada por Pequim na cidade.
Após protestos massivos e violentos de 2019, Pequim parece ter perdido a paciência após ver o ocidente subir o tom da retórica, com Trump e o parlamento norte-americano produzindo declarações na época dos protestos e agora durante a crise do coronavírus. Com a crise “controlada” na região, Pequim quer evitar mais problemas, considerando que em setembro Hong Kong elegerá novamente seus deputados.
Jornalista e sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha).