Neste domingo (9), o Parlamento de El Salvador teve uma sessão extraordinária sob duríssimas condições, já que o presidente do país, Nayib Bukele, acionou as Forças Armadas para forçar a realização do uma votação sobre um projeto do seu interesse.
Oficialmente, Bukele afirmou que a presença dos militares era para proteger a ele mesmo que também estava no Parlamento, para pressionar os militares a votar um projeto que visa endividar o país para financiar o novo plano de segurança, com o qual, assegura, “o crime organizado e o tráfico de drogas vai acabar em El Salvador”.
Porém, o que se viu foi que alguns soldados também estavam presentes na sessão, e com fuzis em mãos. No fim, não houve votação, porque eram poucos os parlamentares presentes, e a maioria eram do seu partido.
?? | AHORA: Militares y policías ingresan al salón de sesiones del Congreso de El Salvador. pic.twitter.com/fWPvZfCdal
— Alerta News 24 (@AlertaNews24) February 9, 2020
Além dos militares, Bukele também convocou um grupo de seguidores, que marcou presença do lado de fora do edifício legislativo.
O mandatário salvadorenho é um empresário de 38 anos, conhecido na América Central como “o presidente millennial”. Chegou ao poder com um discurso que enfatizou a “renovação na política” e de completa ojeriza aos que chama de “políticos tradicionais”.
Na sexta-feira (7), ele fez um chamado aos seus apoiadores, dizendo que “cada cidadão tem o direito à insurreição, se os políticos tradicionais não fazem aquilo que o povo espera deles”. No caso, o que “o povo espera”, segundo Bukele, é que o Estado salvadorenho adquira uma dívida de 109 milhões de dólares para comprar equipamentos para as polícias e as mesmas forças armadas que invadiram o Parlamento neste domingo.
O uso da palavra “insurreição” também não foi por acaso, e tem a ver com outra frase dita por Bukele em sua convocação: “vamos dar uma semana para esses sem vergonha. Se não aprovam o projeto, não sou eu que vou me colocar entre o povo e o artigo 87 da constituição”.
O artigo citado é justamente o que fala em permitir uma “insurreição popular”. Contudo, o texto diz reconhecer esse direito em função de “restabelecer a ordem constitucional”. O texto, basicamente, institucionaliza o golpe de Estado, mas não há nenhuma parte dele que justifique seu uso para obrigar o Parlamento a votar um projeto de lei, como está fazendo Bukele.
Aliás, não é a primeira vez que o presidente millennial ameaça usar o artigo 87, e estimular a “insurreição popular”. No ano passado, ele utilizou o mesmo discurso para aprovar ao menos duas reformas do seu governo.
Antes de deixar o edifício legislativo, o presidente salvadorenho rezou, disse que escutou Deus pedindo a ele para ter paciência, e comentou que gostou de ver as cadeiras do Parlamento vazias: “para que possam ser preenchidas por gente honesta no futuro”, explicou.
A iniciativa de Bukele neste domingo foi criticada pela organização Human Right Watch, cujo presidente, José Miguel Vivanco, pediu ao secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que convoque uma reunião urgente frente sobre o tema, que ele qualificou como uma “exibição de força bruta”. Almagro, sempre muito rápido em opinar sobre a Venezuela, não se manifestou sobre o assunto até o momento.