Diversos partidos da oposição ao governo de Sebastián Piñera no Chile apresentaram no Congresso do país um projeto pedindo o adiantamento das eleições presidenciais, com o argumento de que as recentes posturas do mandatário, contrária às demandas dos chilenos nos protestos que continuam acontecendo no país, configuram um quadro de “falta de legitimidade”.
Um dia antes da apresentação do projeto, as principais cidades do Chile registraram o quarto dia seguido de greve dos profissionais da saúde, que ganhou o reforço de vários movimentos sociais, o que transformou a demanda por aumento de salários e melhora das condições de trabalho por uma muito mais abrangente: a renúncia de Piñera.
Esse apoio nasceu, também, da decisão do governo chileno de contestar na Justiça um projeto que permitiria aos contribuintes chilenos retirar mais 10% dos seus fundos previdenciários em dezembro – em agosto, foi aprovado projeto idêntico, mas desta vez o governo considera que tal medida é inconstitucional, apesar de não ter feito o mesmo questionamento anteriormente.
A oposição pretende tramitar e aprovar o projeto ainda durante este 2020, para que as eleições presidenciais do país sejam adiantadas em 7 meses. Atualmente, o pleito está marcado para o ter seu primeiro turno em 21 de novembro, mas o projeto estabelece que ele deveria acontecer em 11 de abril, no mesmo dia em que serão eleitos os representantes da assembleia constituinte, cujo processo foi iniciado após o resultado do plebiscito de outubro passado.
Segundo a deputada Carmen Hertz, do Partido Comunista, “a única via democrática possível (na atual conjuntura política do país) é adiantar as eleições. Não podemos seguir afundando no desgoverno, nas violações sistemáticas aos direitos humanos, no abuso diário da elite econômica para quem (Piñera) governa”.
O senador Alejandro Guillier, do Partido Social Democrata, afirmou que “o Chile não aguenta mais 15 meses de governo de Piñera, um governo que já acabou, e será um erro se a direita insistir em manter essa gestão sem autoridade nem credibilidade por tanto tempo”. O parlamentar também lembrou que as últimas pesquisas de opinião dão ao mandatário um índice de aprovação de 13%, e rejeição de 78%, tudo isso antes da decisão contra a segunda retirada dos fundos previdenciários.
Através de um comunicado, o governo de Piñera classificou o projeto como uma “iniciativa golpista, que visa desconhecer as regras da democracia e a vontade do povo expressada nas últimas eleições legítimas”.