O Peru conheceu nesta segunda-feira (16) o seu quarto presidente diferente desde as últimas eleições presidenciais. Se trata de Francisco Sagasti, que também é o novo presidente do Congresso e acumulará a função de chefe dos poderes Executivo e Legislativo até as eleições presidenciais de 2021.
A eleição de Sagasti foi confirmada 26 horas depois da renúncia de Manuel Merino, que durou apenas 6 dias na presidência, após a destituição de Martín Vizcarra, no dia 9 de novembro.
Na semana passada, o Congresso unicameral do Peru definiu, por 105 votos a favor e 22 contra, que Vizcarra fosse retirado do cargo de presidente da República por “incapacidade moral”, devido a um caso de corrupção (superfaturamento de obra pública) que ainda está sendo investigado e carece de decisão judicial, da época em que era governador da província de Moquegua (2011).
Como Vizcarra não tinha um vice-presidente – ele mesmo foi vice de Pedro Pablo Kuczynski, presidente que foi eleito em 2016, e assumiu após a renúncia do mesmo Kuczynski, em 2018, pressionado por um caso de compra de votos –, em seu lugar assumiu o então presidente do Congresso, Manuel Merino, que liderou a estratégia parlamentar para destitui-lo, que em muito se assemelhou ao golpe parlamentar contra Dilma Rousseff em 2016, já que se baseava em uma acusação juridicamente inconsistente.
Na mídia peruana, a queda de Vizcarra e a legitimidade de Merino foram tema de discussão, mas nas ruas nunca houve dúvidas: desde a terça-feira (10), as principais cidades do Peru são palco de manifestações massivas, com dezenas de milhares de pessoas protestando não tanto a favor do presidente que caiu, mas sobretudo contra o que assumiu.
Após cinco dias seguidos de manifestações, e com o saldo trágico da realizada na noite de sábado (14), com duas pessoas falecidas e várias feridas ou presas arbitrariamente pelas forças de segurança, Merino decidiu renunciar ao seu breve mandato, no começo da tarde de domingo (15).
Para tanto, também teve que renunciar ao cargo de Presidente do Congresso, razão pela qual foi realizada uma sessão extraordinária que só terminou com a eleição de Sagasti, nesta segunda.
Novo presidente interino, Francisco Sagasti tem história controversa. Começou sua carreira política como assessor do Ministério da Indústria do Governo Revolucionário da Força Armada, uma junta militar nacionalista de esquerda que governou o Peru entre 1968 e 1980 – embora ele tenha ocupado o cargo apenas entre 1972 e 1977.
Anos depois, passou por uma transformação ideológica que se consolidou nos Anos 90, quando trabalhou como executivo do Banco Mundial, entre 1990 e 1992.
Em 1996, Sagasti foi um dos 72 reféns do sequestro da embaixada do Japão em Lima, por ação do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, episódio que durou 5 meses e terminou com um refém morto.
Duas décadas depois, em 2017, ele voltou à política como um dos fundadores do Partido Morado, que se oferecia como um novo referente político da centro-direita no Peru, definindo-se como “liberal na economia e também em questões de direitos civis”. Foi eleito congressista em março de 2020.
Seu mandato interino deveria durar até as próximas eleições presidenciais, cujo primeiro turno está marcado para abril de 2021, e o segundo para junho do mesmo ano. Será preciso saber, contudo, como a população peruana vai reagir à sua nomeação.