A crise política iniciada no Peru após destituição do ex-presidente Martín Vizcarra teve seu dia mais sangrento – ao menos até agora – neste sábado (9), em que os protestos em Lima e outras grandes cidades do país, novamente massivos, foram cruelmente atacados pelas forças de segurança do país, com resultados a lamentar: ao menos duas pessoas faleceram na capital do país e há vários relatos de desaparecidos.
Nas redes sociais, várias organizações reclamaram de uso indiscriminado de gás lacrimogêneo e balas de dispersão (de chumbinho, chamadas “perdigones”) por parte das forças policiais peruanas, e algumas organizações civis, especialmente a Defensoria Pública do Peru, utilizaram as redes sociais para mostrar imagens comprovando que os ataques policiais se iniciaram em meio a uma manifestação pacífica, reforçando o caráter autoritário da ação.
Até o momento há dois casos confirmados de pessoas falecidas como resultado da repressão policial. Ambos seriam estudantes de entre 23 e 25 anos de idade e seriam estudantes universitários – as organizações estudantis peruanas estão entre as que mais fortemente têm mobilizado pessoas para os protestos. Contudo, também há dezenas de relatos de pessoas desaparecidas nas redes sociais, e também a partir de denúncias formais realizadas pela Defensoria Pública e outras organizações de defesa dos direitos humanos.
Tais protestos marcaram o sexto dia seguido de manifestações desde a destituição do agora ex-presidente Martín Vizcarra, definida pelo Congresso na segunda-feira (9), em ação considerada como um golpe de Estado parlamentar por grande parte da população, que considera ilegítimo o novo governo que assumiu desde então, liderado por Manuel Merino – que era justamente o presidente do Congresso, e que liderou a votação na que Vizcarra foi destituído.
Neste mesmo sábado, a crise política no país se aprofundou, com o pedido de renúncia coletivo de nove ministros que eram ligados ao governo de Vizcarra, mas que inicialmente receberam a promessa do novo presidente de que seriam mantidos em seus cargos.
Através das redes sociais, já existe uma campanha com a hashtag #DerechoALaMovilización (“direito à mobilização”), denunciando a repressão deste sábado e convocando uma nova manifestação para este domingo, desta vez também contra a violência policial, além dos questionamentos ao novo governo.