Chile: Adolescente é empurrado de ponte por carabineiro durante protesto em Santiago

Protestos contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera acontecem desde outubro do ano passado, com forte repressão; 34 pessoas já foram mortas

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Por Rogério Tomaz Jr.*

Um jovem de 16 anos foi empurrado de uma ponte por um carabineiro (espécie de policial militar) chileno durante um protesto na capital Santiago, na última sexta-feira (2). Anthony Araya caiu de uma altura de aproximadamente 8 metros no leito seco do rio Mapocho (ver vídeo abaixo) e foi levado ainda com vida para um hospital, mas seguia até este sábado (3) em estado grave.

Assista ao vídeo, com imagens de vários ângulos e câmeras diferentes:

https://www.youtube.com/watch?v=39ZE3Y1Bh2Q

O carabineiro que empurrou o jovem foi preso e vai responder, segundo o Ministério Público, por "homicídio frustrado", que é mais grave do que "tentativa de homicídio" no Código Penal do país.

Os protestos contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera, que é um dos empresários mais ricos do país, acontecem desde outubro do ano passado e sofrem forte repressão dos carabineiros e das outras polícias chilenas. Desde então, 34 pessoas foram mortas, mais de 300 ficaram cegas ao serem atingidas nos olhos por balas de borracha e mais de 4 mil ficaram feridas.

No dia 25 de outubro o Chile vai realizar um plebiscito para decidir se o país fará uma nova Constituição. O objetivo da população que tem ido às ruas desde a primavera de 2019 é “enterrar” de vez o legado do ditador Augusto Pinochet (1973-1990) e mudar especialmente a legislação que trata da previdência social e dos serviços públicos.

“Modelo dos sonhos”

O ministro da Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, sempre se referiu ao sistema chileno de previdência – inclusive ano passado, antes dos protestos – como que o seu “modelo dos sonhos”.

No Chile, onde Guedes trabalhou nos anos 1980, sob a ditadura Pinochet, as aposentadorias são geridas por empresas privadas que vendem planos de previdência para quem pode pagar. Em 2019, 80% das pensões pagas no país estavam abaixo do salário mínimo e 44% estavam abaixo da linha da pobreza, revelou o especialista Andras Uthoff, consultor do Instituto Igualdad e professor da Universidade do Chile.

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  • *Rogério Tomaz Jr. é jornalista brasileiro residindo em Mendoza, Argentina, onde faz mestrado em Estudos Latinoamericanos com projeto de pesquisa sobre as mobilizações do Chile por uma nova Constituição.