CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou nesta quarta-feira (28) um ataque com arma de fogo, de alto calibre, contra uma de suas principais refinarias de petróleo do país. "Ontem a Refinaria de Amuay, no estado de Falcón, foi atacada com uma arma longa, poderosa, derrubaram uma torre que, por sua espessura, pode ser comparada a um tanque de guerra. O ataque terrorista aconteceu ontem às 14h", afirmou. A informação foi fornecida pelo presidente durante uma entrevista coletiva em que Fórum esteve presente, em Caracas.
Um ex-militar dos Estados Unidos já havia sido preso em setembro na rodovia que leva a essa refinaria portando armamento pesado. O acusado foi identificado como Matthew Jhon Heath e, no momento da prisão, levava no carro um lança-rojão modelo AT4 de 84 mm, uma submetralhadora modelo UZI de 9 mm (um tipo de pistola-metralhadora compacta de origem israelense) e pacotes suspeitos de conter material explosivo tipo C4, além de um telefone de comunicação via satélite.
Além disso, ontem foram presos dois estrangeiros em Zulia, estado venezuelano que faz fronteira com a Colômbia, que participariam de outro plano de ataque e violência. "Há dois dias capturamos dois estrangeiros que planejavam assassinar dirigentes políticos. A Venezuela sofre ataques permanentes, com a cumplicidade dos Estados Unidos e de alguns países da Europa", disse o mandatário.
Maduro fez críticas ao governo da Espanha, que esta semana recebeu o opositor venezuelano, Leopoldo López, que estava protegido pela embaixada da Espanha em Caracas desde o falido golpe de Estado de 30 de abril de 2019. López fugiu para o país europeu no último sábado. "Para alguns países existem terroristas maus e terroristas bons. Mas, para nós, só existe um tipo de terrorista e condenamos essas ações", declarou o presidente.
O chefe de Estado venezuelano disse ainda que o embaixador da Espanha em Caracas, Jesus Silva, "participou diretamente do planejamento da fuga do opositor condenado e também das ações da Operação Gedeon", que resultou em uma tentativa de invasão mercenária à Venezuela em maio deste ano. A Gedeon foi liderada pelo ex-militar dos Estados Unidos, Jordan Goudreau, que assumiu a autoria das ações e revelou que foi contratado pelo deputado opositor Juan Guaidó e sua equipe de assessores políticos.
Maduro responsabilizou Leopoldo López pelos protestos violentos de 2014, que resultou na morte de 45 pessoas e mais de mil feridos. "Em janeiro de 2014, Leopoldo López liderou um plano violento para derrubar o governo. Nós subestimamos a capacidade da oposição de gerar violência. Leopoldo foi condenado e se entregou em 2014. Então, ele está fugindo de uma sentença a qual ele se entregou", pontuou.
O presidente também revelou que existiram negociações secretas com Leopoldo López, em 2017. "Descobrimos um plano, de opositores, para matá-lo na prisão e salvamos sua vida. Depois disso, Leopoldo sentou em uma mesa de negociação com o governo, porque ele e seu partido queriam participar das eleições para a Assembleia Constituinte, mas não houve consenso entre ele e os demais partidos opositores. Nessa mesa foram negociados alguns benefícios jurídicos, como a prisão domiciliar", revelou. Foi assim que López saiu da prisão, fato desconhecido até agora.
López violou o recurso de prisão domiciliar, em 2019, quando participou de uma tentativa de golpe de Estado, ao tentar controlar a principal base aérea militar do país, La Carlota, localizada em uma região central de Caracas. Ele foi liberado da prisão domiciliar por militares alçados contra o governo e se juntou aos opositores que lideravam o golpe em uma ponte em frente à base aérea.
Próximas eleições
O presidente venezuelano destacou que o país está pronto para realizar as eleições parlamentares do próximo dia 6 de dezembro e que esse processo eleitoral é legitimado pela Constituição venezuelana. "Quem legitima uma eleição na França? A Constituição francesa. Na Venezuela também é nossa Constituição. Não precisamos que nenhum país ou organismo venha nos dizer o que é legítimo ou não. Mas convidamos diversos observadores internacionais, até mesmo a União Europeia, e o convite está em aberto."
Alguns observadores já confirmaram presença. "A Venezuela já recebeu a confirmação de 300 observadores internacionais, entre eles organismos da Europa e organizações dos Estados Unidos", destacou Maduro.
Disse também que dessas eleições surgirão novos líderes políticos. "Vai surgir uma nova oposição fruto das próximas eleições. Com isso, Juan Guaidó e Leopoldo López vão desaparecer como líderes, serão esquecidos. A Assembleia Nacional se transformará no epicentro da política venezuelana. Vai pautar a agenda política do país, abrigando as diferentes ideologias políticas", narrou.
Descoberta de novo remédio contra a Covid-19
Nicolás Maduro também deu detalhes sobre uma descoberta científica venezuelana anunciada esta semana. Trata-se de uma substância utilizada em um medicamento contra a hepatite C e que se mostrou efetiva no combate à Covid-19. Com isso, o governo venezuelano passou a trabalhar em um estudo de um novo retroviral que poderia reduzir consideravelmente a velocidade de reprodução do vírus e, portanto, também diminuir os sintomas da doença.
Os estudos para a produção do remédio já foram apresentados à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização Pan-americana de Saúde. Caso os efeitos positivos sejam comprovados por esses dois organismos e o remédio receba os registros necessários, o governo venezuelano pretende fazer um convênio com a Rússia, a China e a Índia para promover uma fabricação massiva do medicamento. "A cada dia estão surgindo tratamentos mais efetivos contra a Covid. Como venezuelanos, estamos orgulhosos de poder contribuir com essa luta", disse Maduro.
Sobre a vacina da Covid-19, o líder venezuelano afirmou que a parceria com a Rússia vai permitir ao país ter vacinação massiva em médio prazo. "No primeiro trimestre do ano que vem esperamos comprar milhões de doses de vacina para começar a vacinação massiva. A Venezuela também vai produzir vacina em parceria com a Rússia", ressaltou.
Relação com os EUA
Com a aproximação das eleições estadunidenses, a Venezuela voltou a estar presente nos debates políticos dos Estados Unidos. No entanto, Maduro afirma que não há nenhum tipo de interlocução com os candidatos à presidência. "Não entramos em contato nem com a campanha de Trump, nem de Biden. Vamos esperar para ver quem vai ganhar a eleição. A política da Venezuela sempre será o diálogo. Hugo Chávez, por exemplo, falava por telefone diretamente com Bill Clinton. E tivemos diálogo direto com George Bush e com Barack Obama", disse.
O presidente venezuelano condenou às sanções contra o seu país e a pressão dos EUA para deixar a Venezuela sem abastecimento. "Os Estados Unidos nos roubaram recentemente 3 milhões de litros de gasolina em alto-mar, com o apoio de Juan Guaidó, que defende sanções contra a Venezuela. Recorremos às instâncias correspondentes para reclamar. Todos os dias sofremos ataques desse tipo", destacou.
Hoje, a Venezuela vive um racionamento de gasolina e gás de cozinha. O presidente afirma que o país tem uma reserva de combustível para 20 dias e está aumentando para chegar a 30 dias, além do consumo diário que continua sendo mantido, mas de forma reduzida. O país teria aumentado sua capacidade de refino de petróleo em 30% nos últimos meses, segundo Nicolás Maduro.