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A Justiça dos Estados Unidos realizará, nesta semana, as audiências de pré-julgamento dos psicólogos James Mitchell e Bruce Jessen, responsáveis pelo programa de torturas usado na Prisão de Guantánamo entre 2002 e 2008, quando o local aprisionou pessoas suspeitas de terem algum envolvimento com o atentado de 11 de setembro de 2001 – muitos dos quais nunca tiveram esse envolvimento minimamente comprovado, mas ainda assim passaram anos na prisão.
Mitchell e Jessen criaram o que alguns meios da imprensa local chamam de “interrogatório aprimorado” dos EUA, mas que se trata simplesmente de tortura. Entre as muitas técnicas utilizadas está a do “afogamento simulado” (ou “waterboarding”, como é conhecido em inglês), na que o indivíduo, já com mãos e pés presos, tem a cabeça tapada com um pano e depois se despeja água sobre o rosto, impedindo a respiração durante um longo lapso de tempo.
Segundo os advogados dos 40 detidos no campo de concentração da ilha cubana, esta será uma oportunidade única para responsabilizar tanto a CIA quanto o FBI como cúmplices de tortura.
Mitchell e Jessen eram psicólogos da força aérea americana e começaram a trabalhar em Guantánamo em 2002, com um salário de 1,8 mil dólares por dia para cada um. Em 2005, eles criaram uma empresa privada que fornecia a maioria dos interrogadores e a equipe de segurança para os centros de detenção secretos das forças armadas dos Estados Unidos. A empresa recebeu 81 milhões de dólares por esse serviço, durante quatro anos – o contrato foi rescindido em 2009.
“O perverso `trabalho´ desses psicólogos atrasou dramaticamente a luta global contra a tortura. Os métodos de interrogatório que eles usaram tiveram um efeito dominó em todo o mundo”, disse Julia Hall, advogada de direitos humanos da Anistia Internacional, que participará das audiências.
Por sua parte, a defesa dos psicólogos afirma que eles somente fizeram o trabalho que foi solicitado, e que suas práticas foram declaradas como legais pelo governo George W. Bush (2001-2009), e ainda alega que eles atuaram para evitar os excessos de outros interrogadores.
Em 2012, a Associação de Psicologia dos Estados Unidos cassou os registros de Mitchell e Jessen por “violar o código de ética e manchar a profissão”.