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A primeira visita de Jair Bolsonaro à Argentina, que acontece nesta quinta-feira (6), gerou revolta nos argentinos, que já convocaram protesto contra o presidente brasileiro. Hebe de Bonafini, líder da Associação das Mães da Praça de Maio, considera que Bolsonaro e o presidente argentino, Maurício Macri, são iguais e defende a mobilização contra a "exploração da América Latina".
Em entrevista à Fórum, Hebe de Bonafini diz que Bolsonaro e Macri se confundem: "A gente já não se dá conta de quem é cada um. É como se o lixo se juntasse. Os exploradores, os ditadores, os assassinos se juntam entre si para explorar cada vez mais a América Latina".
Questionada se na Argentina - um país que, diferentemente do Brasil, julgou os ditadores - o discurso defensor da ditadura tem ressonância, Hebe considerou que "o discurso autoritário tem ressonância nos canais do Estado que Macri promove, porque ele fala como Bolsonaro. Bolsonaro fala como Macri e Macri fala como Bolsonaro".
[caption id="attachment_176068" align="alignleft" width="300"] Hebe de Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio | Foto: Associação das Mães da Praça de Maio[/caption]
Para ela, essa aproximação dos dois presidentes pode ser politicamente positiva para os dois, mas é bastante negativa para a população. "Bolsonaro pode ajudar Macri, e vice-versa. Quem eles não podem ajudar é o povo. E só quem pode ajudar o povo é o próprio povo. Não é o Parlamento, não é a Justiça. Nos libertaremos nas ruas", declarou.
Hebe ainda aproveitou para saudar Lula: "quero mandar um grande abraço para Lula e reafirmar que é o povo quem pode nos libertar, nas ruas, nas praças, nos lugares que são nossos". Em carta enviada em em 2017 ao ex-presidente, as Madres reconheceram que Lula era vítima de uma perseguição política: "reconheço em você um líder excepcional que, há décadas, luta por uma pátria latino-americana livre, justa e soberana – a mesma que queriam nossos filhos, os 30 mil desaparecidos".
Mães da Praça de Maio
A Associação das Mães da Praça de Maio surgiu como resistência à ditadura militar argentina iniciada em 1976 por um grupo de mães que queriam encontrar seus filhos desaparecidos. Em busca de uma forma de visibilizar a luta pela aparição com vida dos filhos, essas mães decidiram iniciar uma ronda na Praça de Maio - a mais importante da Argentina - e até hoje é considerado um dos movimentos mais importantes na luta contra a ditadura e na construção de memória coletiva sobre aqueles tempos. Nas contas do movimento, mais de 30 mil pessoas foram desaparecidas durante a chamada "ditadura do terrorismo de estado".
As rondas, iniciadas em 1977, acontecem até os dias de hoje, todas as quintas-feiras, às 15h, na mesma praça que reúne a Casa Rosada, a sede do Banco de la Nación e a Catedral de Buenos Aires. Coincidentemente, a visita de Bolsonaro ao palácio presidencial cai numa quinta-feira, e as Madres não poderiam ficar de fora dos protestos. Apesar de não constarem como signatárias da convocatória do ato, a marcha das mães está incluída na programação.