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Por Mariano Vázquez*
Tradução de Vinicius Sartorato**
Enquanto Ernesto Che Guevara desenvolvia sua guerrilha nas montanhas de Ñancahuazú, a ditadura boliviana, liderada por René Barrientos, arrasou militarmente o todo-poderoso movimento mineiro como uma advertência à sua audácia revolucionária. Em 24 de junho, recordamos os 52 anos (1967) do massacre de San Juan na Bolívia.
Eles atacaram de surpresa. Por terra e ar. A “Operação Pinguim” foi desenvolvida nos próprios campos de mineração. Naquela madrugada escura e fria, enquanto os trabalhadores e suas famílias celebravam a noite de São João, tropas combinadas os atacaram com traição.
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A empresa cortou a eletricidade para que as rádios mineiras não informassem o ataque. Dez jovens recrutas, que eram da área e se recusaram a atirar, foram assassinados por seus comandantes.
O número exato de assassinados e feridos nunca foi conhecido. Variam entre 27 e 87 mortos e centenas de feridos. Aqueles que não caíram sob balas militares sofreram exílio e confinamento. Assim, a prática do desaparecimento forçado começou na Bolívia. Nas minas, em Ñancahuazú. Seus corpos, no limbo.
Os centros de mineração foram declarados zonas militares. A prática sindical e a chegada de jornalistas foram proibidas. Houve resistência. A greve geral foi declarada. Milhares foram demitidos. Eles vagaram no exílio, escondidos. A ditadura culpou a guerrilha de Che pela organização dos mineiros. Era falso, não havia tal coordenação.
Mentiu o ditador Barrientos: “Tivemos que salvar o Estado do perigo de se tornar um satélite de Pequim ou Havana, com a pátria ou o comunismo, não há outro dilema, vou manter a lei e a ordem a qualquer custo”.
Disse o filósofo francês e parceiro de Che na guerrilha, Regis Debray: “O massacre de 24 de junho leva ao germe do assassinato de 8 de outubro (da guerrilha e do Che)”. Nem Che poderia impedir o massacre dos mineiros nem estes o assassinato e a queda do ELN (Exército de Libertação Nacional).
O comunicado n°5 – “Aos mineiros da Bolívia”, de Che, que nunca chegou a se espalhar, diz: “Mais uma vez o sangue proletário corre em nossas minas (...) os mecânicos do mundo imperialista ensinaram aqueles que queriam ver que, em matéria de revolução social, não há meias soluções, ou todo poder é tomado ou os avanços alcançados com tanto sacrifício e tanto sangue se perde”.
Os deputados independentes, Marcelo Qurioga Santa Cruz e José Ortiz Mercado, questionaram a denúncia do governo ao massacre de mineração e, meses depois, as revelações da interferência brutal da CIA na campanha antiguerrilha. Esta atitude firme levou ao impeachment de ambos os deputados e seu posterior confinamento nas áreas de Ixiamas e Alto Madidi.
Como o presidente Evo Morales disse em sua conta no Twitter: “A melhor homenagem aos nossos mártires é realizar o sonho de uma Pátria digna e soberana”.
*Mariano Vázquez (@marianovazkez) é um jornalista argentino residente em Buenos Aires. Documentarista, possui experiência em temas políticos internacionais e laborais, tendo trabalhado por muitos anos na TV boliviana e em vários meios argentinos.
**Vinicius Sartorato (@vinisartorato) é jornalista e sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha).