No dia 26 de abril de 1986, uma explosão no quarto reator da planta nuclear de Chernobil causou uma catástrofe que contaminou uma área mais de 130 quilômetros quadrados (que atingia territórios que hoje são da Ucrância, Rússia e Bielorrússia), onde vivia uma população de cerca de 7 milhões de cidadãos soviéticos, provocando uma onda de doenças causadas pela radiação.
A tragédia foi terrível, mas também houve quem trabalhasse depois para diminuir a dor dos que sobreviveram a ela, como estava um grupo de médicos cubanos que atuou nos cuidados das chamadas “crianças de Chernobil”.
O segundo capítulo dessa história viria somente em 1990, quando a Ucrânia pediu ajuda internacional para as crianças vítimas do acidente nuclear. “O pedido chegou numa quinta-feira, e no sábado já estávamos enviando a resposta: nós tínhamos os melhores especialistas em patologias mais frequentes em crianças, que poderiam viajar imediatamente”, respondeu Sergio López Briel, que era o cônsul cubano na União Soviética naquele então.
Os médicos eram Martha Longchong Ramos, José Manuel Ballester Santovenia e José Ricardo Güell González. Eles inspecionaram os povoados contaminados pela radiação, e cuidaram daqueles que apresentavam casos mais simples. Semanas depois, uma aeronave com 139 crianças com doenças onco-hematológicas aterrizou no aeropuerto de Havana, para iniciar um programa de recuperação que, antes, precisou vencer os obstáculos criados pelos funcionários soviéticos.
O primeiro grupo foi recebido pessoalmente pelo presidente Fidel Castro, que anunciou que seu país receberia um total de 10 mil pacientes da União Soviética.
Contudo, o governo cubano só entendeu a magnitude da catástrofe quando o estado das primeiras crianças deixava isso claro. No começo, elas eram levadas a dois hospitais pediátricos de Havana: o William Soler e o Juan Manuel Márquez, mas depois foram trasladadas a um alojamento, na cidade de Tarará.
Segundo o programa, a seleção dos pacientes era feita com base em certos critérios, formando quatro grupos dependendo da gravidade do paciente. Os serviços médicos se estruturavam em três níveis. O primário recebia a terapia médica oferecida tanto em clínicas como nos próprios alojamentos dos pacientes. O secundário necessitava de tratamento no Hospital de Tarará. Finalmente, o terciário incluía a atenção médica nas instalações especializadas, em Havana. Além dos médicos cubanos, havia médicos e psicólogos ucranianos trabalhando nas equipes, facilitando a comunicação.
Além disso, o programa de reabilitação psicológica incluía excursões e atividades culturais, e os trabalhadores costumavam fazer doces para as crianças, e dar bolos de aniversário de presente.
Durante todo o programa, Cuba prestou os serviços médicos gratuitamente, pedindo da União Soviética somente o transporte das crianças. Não mudou sua política nem mesmo quando se iniciou o chamado “período especial em tempos de paz” (nos Anos 90, quando o país perdeu o apoio soviético e do bloco comunista, e se deparou com uma enorme crise econômica.
Isso significou ao governo cubano manter um enorme gasto para cuidar das vidas daquelas crianças. Para se ter um exemplo, em 1997, o tratamento de uma criança com doença onco-hematológica custava tanto quanto o voo que levava as crianças à ilha, segundo a revista ucraniana Zerkalo Nedeli.
A jornalista ucraniana Valentina Petrochenkova, que assina a reportagem, afirma que “os próprios nunca nos dirão quanto dinheiro eles gastaram para salvar os nossos filhos”. Ela afirma ter ligado para os responsáveis do Centro de Bem-Estar de Tarará, onde foi negada a resposta.
O líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, tampouco quis precisar as dificuldades que o país passou para manter o programa: “este é um dever elementar que estamos cumprindo com o povo soviético, com um povo irmão. Não estamos fazendo publicidade”. Contudo, a jornalista estima que, somente em medicamento, a ilha gastou cerca de 350 milhões de dólares aproximadamente.
O programa com as crianças de Chernobil durou mais de duas décadas, e só terminou em meados de 2016. Cuba foi o único país que atendeu as vítimas da tragédia de gratuita e massiva. Com informações do RT e do Revista Frente.