Escrito en
GLOBAL
el
A manhã de quarta-feira (29/5) em Buenos Aires foi de cidade vazia. A primeira greve geral do país neste 2019 (e sexta considerando todo o mandato presidencial de Mauricio Macri) reproduziu essa situação em diversas cidades do país, mas evidentemente que a capital foi a que mais chamou a atenção.
A paralisação teve como principal justificativa, segundo seus organizadores, a grave crise econômica e social que a Argentina enfrenta, após três anos e meio de políticas neoliberais por parte da gestão macrista, período no qual o país viu os índices de inflação, desemprego e vulnerabilidade social se aproximarem novamente dos patamares de 2001 – época da crise do corralito.
Porém, quando os primeiros piquetes saíram das sedes sindicais e ganharam as ruas, o cenário de cidade fantasma com o qual a capital amanheceu mudou rapidamente, e passou a ser marcado pelo confronto e a repressão violenta por parte das forças de segurança, que não economizaram no uso de balas de borracha e gases lacrimogêneos.
Contudo, nem mesmo a violência policial impediu que ao menos milhares de trabalhadoras e trabalhadores (12 mil segundo as autoridades, 45 mil segundo os organizadores) se reunissem em torno ao Obelisco no período da tarde, onde se realizaram os atos relativos à greve, e que foram, para o líder sindical Hector Daer – um dos porta-vozes da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), a maior central sindical da Argentina – a confirmação do sucesso da jornada.
Segundo o sindicalista, “a adesão de quase todas as categorias a esta greve é um sinal de que as pessoas não aguentam mais os ajustes que castigam sempre os trabalhadores, boicotando a atividade produtiva e destruindo postos de trabalhos. As consequências dessas políticas econômicas têm sido devastadoras para o tecido social”.
Por sua parte, a Casa Rosada reagiu aos eventos através de dois dos seus mais verborrágicos ministros. A primeira em dar declarações, foi a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, que foi direta em suas queixas à manifestação dos trabalhadores: “estamos cansados das greves, e sabemos que quando há um governo que não é o do partido dos sindicalistas temos que suportá-las. Isso é algo pouco democrático”. Outro funcionário macrista que falou sobre a greve foi Dante Sica, ministro da Produção (pasta que absorveu o Ministério do Trabalho, que Macri extinguiu no ano passado). Ele seguiu a mesma linha de desqualificar a mobilização: “isto tem mais a ver com sindicalistas que querem se posicionar para a corrida eleitoral que com uma manifestação genuína pelo que está acontecendo no pais. Estão usando os trabalhadores como reféns”.
Além das marchas e do ato no obelisco, também se registraram atos nas principais praças de outras grandes cidades, como Córdoba, Santa Fé e Rosário. Nas favelas e bairros vulneráveis de Buenos Aires, foram organizadas as chamadas “ollas populares”, nas quais as organizações comunitárias cozinham em grandes caldeirões no meio da rua para servir comida grátis para as pessoas necessitadas.
A paralisação, iniciada a 0h da quarta-feira, estava programada para durar 36 horas, até as 8h desta quinta-feira (30/5). Ou seja, enquanto publicamos esta matéria, boa parte das categorias mobilizadas, especialmente às ligadas aos setores do transporte público acabam de retomar suas atividades.
Por se tratar de uma greve realizada cinco meses antes do primeiro turno das eleições presidenciais, não faltaram as presenças ilustres de dezenas de deputadas e deputados peronistas e kirchneristas – embora a única figura presente com aspirações presidenciais tenha sido Nicolás del Caño, líder da Frente de Esquerda (partido que está à esquerda do kirchnerismo no espectro político argentino). Também foi visto nas manifestações o ativista social Juan Grabois, representante da CTEP (Confederação de Trabalhadores da Economia Popular) e personagem conhecido por sua ligação com o Papa Francisco.
Com informações do Página/12 e do Tiempo Argentino.