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*Por Mariano Vázquez | Tradução de Vinicius Sartorato
Quando Mauricio Macri se tornou o primeiro direitista na história recente a ser eleito pelo voto e conquistar a presidência argentina, seus adeptos popularizaram uma hashtag nas redes sociais: #NoVuelvenMás (#NãoVoltamMais).
Palavras-chave que incorporam o ódio visceral ao peronismo e contra a ex-presidenta, Cristina Fernández de Kirchner (algo parecido à aversão ao PT e Lula) e que demonstrava a ideia de um governo eterno do empresário e sua classe com a chegada a poltrona de Rivadavia.
Entretanto, nesta semana, Cristina Kirchner demonstrou que segue ocupando um papel central da vida política argentina. Em poucos de dias, viu seu livro recém-lançado, “Sinceramente”, tornar-se best-seller ao vender 300.000 cópias. Não satisfeita, sua apresentação na Feira Internacional
do Livro alcançou 36 pontos de audiência televisiva, algo não alcançado sequer em um jogo da seleção argentina de futebol.
Ao contrário do que adversários dizem, a ex-presidenta (2007-2015) evitou conflitos e buscou construir pontes com os setores mais hostis à sua figura: falou ao empresariado e setores médios. "Um contrato social de todos os homens e mulheres argentinas, com metas verificáveis, mensuráveis,
exequíveis, se eu tivesse que dar-lhe um título, seria ‘Contrato Social de Cidadania Responsável’, pois envolve todos", destacou.
No momento em que a Argentina enfrenta uma das piores crises da história sócio-econômica e diante da confirmação do fracasso da direita ao governar, a viúva de Nestor Kirchner resgatou palavras estigmatizadas pelos conservadores, reafirmando: "Com o 'populismo' a economia cresce e é melhor para vocês", disse ela aos empresários e à sociedade.
Como ocorreu com Lula, Macri iniciou uma guerra jurídica para impedir a candidatura de Cristina - hoje senadora. O dia 22 de junho é o prazo para apresentação de listas de candidatos para PASO (primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias), pré-requisito da Junta Eleitoral, enquanto, sua grande base social canta "Sinceramente, Cristina presidente!”.
No dia 27 de outubro, o primeiro turno das eleições presidenciais serão realizadas na Argentina. Com o governo crise e Cristina liderando todas pesquisas de intenção de votos, muitos questionam se Macri deve concorrer à reeleição ou lançar o Plano V (em que a candidata seria Maria Eugenia Vidal, a governadora de Buenos Aires, o maior estado do país). Mas, a aposta governista se limita a alimentar o ódio e a revanche: contra o peronismo, contra Cristina, contra o populismo, para "não se tornar a Venezuela".
Como Juan Domingo Perón, o único a ser eleito três vezes presidente, Cristina Fernández Kirchner começou a mover a máquina para o retorno.
*Mariano Vásquez (@marianovazkez) é jornalista argentino residente em Buenos Aires. Documentarista, possui experiência em temas políticos internacionais e laborais, tendo trabalhado por muitos anos na TV boliviana e em vários meios argentinos.
Vinicius Sartorato (@vinisartorato) é jornalista e sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha)