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Na semana passada, quando Jair Bolsonaro viajou em agenda oficial aos Estados Unidos e se encontrou com Donald Trump, a mídia estadunidense escondeu sua visita do noticiário e apenas o canal Fox News se debruçou em matérias e entrevistas sobre o presidente brasileiro e, mesmo sendo um veículo conhecido por sua linha editorial alinhada à direita, teceu críticas ao capitão da reserva.
Já nesta semana Bolsonaro passou a ser destaque na imprensa internacional como um todo mas, desta vez, não por uma viagem oficial ou movimentações típicas de um chefe de Estado, mas por uma atitude que causa constrangimento ao Brasil. O presidente determinou que unidades militares celebrem o aniversário do golpe de 31 de março de 1964. Na contramão do entendimento nacional e internacional, Bolsonaro insiste em chamar a movimentação golpista dos militares na década de 60 de "revolução" e nega que o período que se estendeu até 1985 tenha se configurado como uma ditadura.
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Não é de hoje que o presidente brasileiro é conhecido internacionalmente pelo seu saudosismo à prática da tortura.
Desde segunda-feira (25), no entanto, quando o porta-voz do governo anunciou as intenções de Bolsonaro de comemorar o aniversário do golpe, que os principais jornais do mundo voltaram a falar da conduta antidemocrática e, no mínimo, questionável no ponto de vista dos direitos humanos do capitão da reserva.
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Confira, abaixo, como alguns dos maiores veículos de imprensa do mundo ocidental vêm tratando o tema.
The New York Times (EUA)
Tido como um dos maiores jornais do mundo, o The New York Times chamou o episódio de 1964 pelo nome correto - "golpe" - e descreveu o período instaurado entre este ano e 1985 como uma ditadura militar, algo que o presidente brasileiro se recusa a acreditar.
"Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, não acredita que houve um golpe militar em 1964 e elogiou repetidas vezes o regime autoritário de 1964-1985", diz a matéria do jornal estadunidense, que relembra ainda a quantidade de generais no governo brasileiro e cita o episódio em que Bolsonaro, então deputado federal, citou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Confira a íntegra da matéria aqui.
Bloomberg (EUA)
O site de negócios e tecnologia estadunidense Bloomberg também chamou o evento de 1964 no Brasil de "golpe" e ainda destacou: "31 de março marca o início de um regime militar que durou mais de duas décadas no Brasil. Centenas foram mortos ou torturados pelas forças armadas, que justificaram suas ações argumentando que evitavam um levante comunista. Ao contrário de outros países da América Latina, o Brasil nunca teve uma avaliação abrangente de seu passado militar, com uma lei de anistia aprovada após o retorno do país à democracia".
Leia a íntegra aqui.
The Washington Post (EUA)
Outro gigante da imprensa estadunidense, o The Washington Post comparou a devoção em comum que Trump e Bolsonaro têm com relação aos militares e, logo na manchete, disparou: "A triste história que o presidente do Brasil quer celebrar".
A longa reportagem detalha as relações entre Estados Unidos e Brasil na construção da ditadura brasileira e destaca o fato de que um presidente orientar comemorações do golpe é algo inédito na história do Brasil.
O periódico, além de narrar em tom crítico a determinação do presidente brasileiro, relembra que ele não acredita que houve uma ditadura mas rebate: "O registro histórico conta uma versão diferente".
Confira a íntegra aqui.
Cronache di Napoli (Itália)
O italiano Cronache di Napoli fez uma matéria em que destacou o fato de Bolsonaro ser um "admirador declarado da ditadura" e resgatou frases do presidente brasileiro sobre o período, como a de que "o erro da ditadura foi só torturar e não matar".
Leia aqui.
The Guardian (Reino Unido)
Principal jornal do Reino Unido, o The Guardian publicou uma reportagem que tem como gancho a "fúria" da esquerda com relação à determinação de Bolsonaro de comemorar o aniversário do golpe militar de 1964.
"Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, elogia com frequência o regime sob o qual centenas de pessoas foram mortas ou desaparecidas à força. Mas suas instruções de que os militares deveriam comemorar o 55º aniversário do golpe neste domingo provocaram fúria generalizada", diz o periódico.
Confira a matéria aqui.
Publico (Portugal)
O português Publico destacou que o presidente brasileiro não acredita que o Brasil tenha vivido uma ditadura ao noticiar suas intenções de se comemorar o golpe.
Além de reproduzir o anúncio do porta-voz do governo, o jornal contextualizou o período dos anos de chumbo.
"O golpe militar que depôs o então Presidente brasileiro João Goulart, num clima de Guerra-Fria, em que os golpistas se apresentavam como baluartes contra o perigo “comunista”, ocorreu a 31 de Março de 1964. Iniciou-se então a ditadura, com uma sucessão de Presidentes das altas esferas militares que durou 21 anos. Durante esse período, não houve eleição direta para a presidência, o Congresso Nacional foi fechado e a imprensa censurada. A ditadura foi legitimada como arma contra a guerrilha de esquerda e forças da oposição".
Confira aqui.