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Aconteceu em Brasília o 11º encontro dos BRICS - bloco formado por Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul. Juntos, esses países possuem um Produto Interno Bruto (PIB) que chega a US$ 40,5 trilhões. A expectativa é que o PIB dos BRICS corresponda a 50% do mundial em 2030.
A previsão foi feita pelo presidente da Seção Chinesa do Conselho Empresarial, Capt Xu Lirong, no lançamento do fórum nesta quarta-feira (13) em uma cerimônia esvaziada, como destacou o jornal Correio Braziliense.
Mas por que razão um encontro de economias tão pujantes e promissoras estava “esvaziado”?
O alinhamento incondicional do presidente Jair Bolsonaro com os Estados Unidos faz o Brasil apoiar golpes de Estado na América Latina. O presidente russo, Vladimir Putin, classificou como golpe o movimento fascista que levou à renúncia de Evo Morales, enquanto Bolsonaro comemorava em seu Twitter. Entre todos os líderes dos BRICS, Bolsonaro é o único que reconhece o impostor Juan Guaidó como mandatário da Venezuela. A invasão da embaixada venezuelana, em Brasília, apoiada pelo filho do presidente, gerou uma crise diplomática que o Brasil e o evento dos BRICS não precisavam.
Por ser o único país a não reconhecer Nicolas Maduro, o governo brasileiro vetou a participação de presidentes sul-americanos em reuniões paralelas, o que ocorria em outros encontros, uma vez que seria complicado convidar todos os países do continente à exceção da Venezuela. A atitude vai contra a tradição da diplomacia brasileira, consagrada pelo Barão do Rio Branco, de defender a multipolaridade, de ser independente e também voltada para os interesses da América do Sul.
Devido às posições políticas antidemocráticas de Jair Bolsonaro, um evento como o encontro dos BRICS foi prejudicado provando que, para ele, a ideologia é que está acima de tudo, e não o Brasil.
O próprio alinhamento incondicional do Brasil aos EUA, em si, motiva esse esvaziamento político, embora Bolsonaro agora esteja encantando pela China comunista, já que foi rejeitado por Trump.
Vale lembrar que os BRICS, criado há uma década, nasceu para ser uma alternativa por uma maior autonomia em organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, por exemplo. Foi também uma importante plataforma de aglutinação política, principalmente nos governos Lula e Dilma, algo que, assim como o desenvolvimento econômico, não combinam com Jair Bolsonaro.
Deslumbrado, Bolsonaro agora ventila de improviso uma negociação de livre comércio com a China, ainda que jure que ela não seja governada pelo Partido Comunista há décadas. Paulo Guedes sugere que o Brasil não se importaria em perder a posição superavitária que mantém na balança comercial com os comunistas. O gigante asiático, que possui PIB de UR$ 23,5 trilhões, obviamente, levaria vantagem em um acordo que seria desleal, segundo já comentam os empresários brasileiros.
Despreparado, o presidente brasileiro poderia trabalhar para firmar parcerias e trazer investimentos ao país, como na área de inteligência, para, de fato, reformar o modelo falido da segurança pública, atendendo assim uma demanda urgente do seu eleitorado e que ele sempre tratou na base da demagogia.
O Brasil nunca errou tanto na política externa. O legado das nossas tradições diplomáticas de conciliação e respeito à autodeterminação dos povos deu lugar ao extremismo, ao fanatismo e ao improviso. Nem mesmo a ditadura militar, e seus estreitos limites - vamos assim dizer- chegou a tanto.
O complexo de vira-latas, descrito pelo escritor Nelson Rodrigues, e tão bem denunciado por Lula, faz o Brasil adotar a subserviência (à China ou aos EUA) como prática ao invés de trabalhar por alternativas. Ao abrir mão do protagonismo, nos restará, caso o bolsonarismo triunfe, o pires na mão.
Porém, sabemos a quem serve. O vermelho que o presidente brasileiro gosta é o do Partido Republicano norte-americano. É importante lembrar que Bolsonaro quase fez o Brasil entrar em uma guerra no início do ano para atender os interesses dos EUA. Afinal de contas, o governo da terra plana não consegue mesmo compreender as voltas que o mundo dá.