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Do Chile, especial para a Fórum
VALPARAÍSO - Além dos protestos nas ruas, o momento do Chile é de organização popular. Em diferentes cidades do país, estão sendo realizadas os chamados “Cabildos Abiertos”, que são como assembleias populares convocadas pelas comunidades de bairro, onde podem participar todos os moradores, e em algumas participam também figuras conhecidas das artes e da política chilena.
Numa delas, ocorrida na manhã desta quinta-feira (31) em Valparaíso (uma das cinco maiores cidades do país), esteve presente o prefeito da cidade, Jorge Sharp, que também é uma das mais importantes figuras da Frente Ampla, a coalizão política mais progressista do país. Em sua curta intervenção, Sharp apresentou a proposta que marcou a jornada: que a Prefeitura de Valparaíso organize um plebiscito municipal sobre a instalação no país de uma assembleia constituinte.
“Não vamos baixar os braços e permitir a frustração de que toda essa organização social que vem crescendo não chegue a uma mudança realmente importante para o país, por isso temos que produzir essa mudança, e creio que um plebiscito seria um passo nessa direção”, defendeu Sharp.
Desde o início dos protestos no Chile no dia 18 de outubro, vem ganhando muita força a ideia de que o país só pode sonhar com mudanças mais profundas com uma nova constituição, e as assembleias populares têm se esforçado em organizar essa demanda e transformá-la em algo mais coeso. Além de propor o plebiscito, o prefeito Sharp afirmou que pretende conversar com outros prefeitos do país que estejam dispostos a fazer o mesmo, para que a iniciativa seja reproduzida na maior quantidade possível de cidades chilenas.
Em um dos intervalos da assembleia, a reportagem da Fórum falou em exclusividade com o prefeito Sharp, que afirmou: "A lei chilena permite que o Poder Executivo, seja ele municipal ou nacional, convoque plebiscitos, e por isso eu apresentei essa proposta aqui na assembleia, e se ela é aprovada pelos participantes nós iremos promovê-la, contamos com os mecanismos para isso".
No final da assembleia, a proposta do prefeito foi aprovada pela quase unanimidade dos pouco mais de 200 participantes. Após a votação, os presentes gritaram um haicai em uníssono: “se necessita, de forma urgente, uma assembleia constituinte”.
Vale lembrar que o Chile já teve dez diferentes textos constitucionais em sua história, e nenhum deles foi fruto de uma assembleia constituinte. Todas as cartas magnas chilenas foram produzidas por setores oligárquicos ou ditaduras, incluindo a que está atualmente vigente, imposta em 1980 pelo ditador Augusto Pinochet.