Escrito en
GLOBAL
el
No início de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada de soldados americanos do Norte da Síria, abandonando antigos aliados no combate ao grupo terrorista Estado Islâmico. A decisão coloca em risco um povo sem país: os curdos.
Há hoje cerca de 35 milhões de curdos espalhados por uma região que inclui partes do Irã, do Iraque, da Turquia e da Síria. Sem a proteção militar dos EUA, cerca de 2 milhões de curdos na Síria receiam uma invasão turca vinda do Norte.
Os curdos querem formar uma nação independente. Por isso, são considerados terroristas pelo governo da Turquia. A tensão na região motivou um grupo de acadêmicos e ativistas a divulgar uma carta em solidariedade aos povos curdos e do norte da Síria.
Veja abaixo a íntegra da carta: Face à retirada das tropas norte-americanas na Síria, acordada entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Recep Tayyip Erdo?an (Turquia), e perante a iminente invasão militar do Curdistão Sírio (também chamado Rojava) e dos povos livres desse território que esse acordo permite, consideramos necessário e urgente manifestar o seguinte:- A comuna de Rojava é o primeiro esforço no Médio Oriente de um projeto político anticapitalista baseado numa confederação democrática; tem como fundamento uma visão alternativa de organização da vida; assentada numa autonomia não estatal, na autodeterminação, na democracia direta e no combate ao patriarcado. A autonomia do Rojava é a utopia de um mundo possível, onde diariamente se constrói a interculturalidade, uma relação diferente e virtuosa entre gêneros e o respeito pela mãe-terra. O Rojava mostra-nos que não podemos resignar-nos à barbárie dos dias que correm.
- O primeiro resultado desta luta pela autonomia foi a contenção do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) e do seu fundamentalismo. Agora, o referido acordo debilita os esforços das milícias curdas, atentando contra os notáveis sucessos que as YPG (Unidades de Proteção Popular) e as YPJ (Unidades de Defesa das Mulheres) obtiveram até hoje, ao enfrentarem com êxito os ataques terroristas do Estado Islâmico no Sul da Síria, vendo-se obrigadas a proteger e libertar o Norte devido ao redobrado assédio levado a cabo pela Turquia.
- A guerra contra a autonomia do Rojava, face ao fracasso do Estado sírio, tem sido sistematicamente orquestrada desde há anos; os ataques e invasões territoriais têm sido o pão-nosso de cada dia. Com a retirada das forças militares norte-americanas das raias turco-sírias, a ameaça sobe de nível: a hostilidade do Estado turco contra o esforço de construção de um mundo democrático converte-se na possibilidade concreta de um extermínio étnico.