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O adversário da seleção brasileira, desta sexta-feira (22), na Copa da Rússia, a Costa Rica, com apenas 4,8 milhões de habitantes, é um dos 22 países do mundo que não têm Forças Armadas. Na manhã de 1º de Dezembro de 1948, o Presidente José Figueres Ferrer declarava “oficialmente dissolvido o Exército Nacional, por considerar suficiente para a segurança do país a existência de um bom corpo de polícia. O Exército Regular da Costa Rica (…) entrega a chave deste quartel às escolas, para que seja convertido num centro cultural”.
Além disto, e talvez também por conta disto, consta ser o único país da América Latina incluído na lista das 22 democracias mais antigas do mundo. Por lá não há nem guerras civis e nem golpes de estado. A sua população tem uma expectativa de vida de 78 anos, com taxa de alfabetização de 96,3%. Por essas e outras, é conhecida como a Suíça da América Latina, por coincidência nosso adversário na primeira fase do mundial.
De acordo com o Happy Planet Index, a população da Costa Rica foi considerada a mais feliz do planeta. Já a revista Diplomat disse sobre o país que “parece algo tirado da lista de desejos da música Imagine de John Lennon”.
País virou canção de Milton Nascimento
O país, com os seus índices sociais invejáveis, virou mesmo sinônimo de bem estar. Milton Nascimento e Fernando Brant compuseram, no início dos anos oitenta, num momento em que a ditadura brasileira dava os seus últimos suspiros, uma espécie de ode à utopia chamada “Coração Civil”, onde o país é citado nominalmente:
Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade dos olhos de um pai
Quero a alegria, muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu País
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Vou sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça, viva a malícia que só gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia
Eu vou levando a vida, eu vou viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho de gozo um dia se realizar
Meio ambiente e Futebol
Para além da questão política, a Costa Rica também investe no meio ambiente, e seu povo se orgulha muito disso, colaborando com o governo na preservação dos seus parques nacionais. Foi considerado, em 2012, o país com melhor desempenho ambiental da América e o quinto do mundo.
O futebol da Costa Rica, que encantou e surpreendeu o mundo na Copa do Brasil, em 2014, é também resultado desta nova maneira de enxergar a vida e a política dos costarriquenhos, sobretudo de Roberto Artavia, professor da Incae Business School, da Costa Rica, que elaborou o projeto: A Indústria do Futebol: Responsabilidade Social e Promoção de Valores”, com três pontos principais:
- Forjar uma estratégia e uma equipe baseada em valores e na força da imagem do time na comunidade;
- Capacitar os jogadores para fazer muito mais do que jogar futebol. Isto quer dizer que, desde a base, eles serão preparados para estudar e ter uma profissão, caso a carreira de jogador não dê certo. Se conseguirem firmar-se, devem entender perfeitamente qual é o papel deles na comunidade, no clube e na “indústria do futebol”;
- Alinhar os objetivos com os recursos existentes (financeiros, físicos, etc.).
Maioria feminina
O atual presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado, tem 38 anos, é roqueiro e foi eleito por uma coalizão de centro esquerda. No final de abril, ele anunciou sua equipe de governo. O gabinete é composto por 14 mulheres e 11 homens, o que supera a meta de conseguir uma paridade de gênero e que pela primeira vez na história do país consolida uma maioria de mulheres.
A sua vice é Epsy Campbell, comunista e será a primeira mulher negra a exercer a vice-presidência em um país da América Latina. Ela também será a primeira ministra das Relações Exteriores do país.
Campbell é economista, ex-deputada, reconhecida política do país e ativista pela igualdade de gênero e defesa dos direitos humanos, especialmente pela não discriminação.
Um dos pontos centrais da eleição foi a defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo.