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Em entrevista ao jornal argentino Página 12, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirma que o Brasil se transformou em um laboratório da política conservadora no mundo com o golpe institucional, que colocou Michel Temer (MDB) no poder, e agora com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República.
Segundo ele, Bolsonaro é o símbolo de uma "nova" democracia "sem Partido dos Trabalhadores, uma democracia amiga dos mercados e uma democracia que abre toda a economia ao lucro do capital internacional".
"Bolsonaro é o símbolo de tudo isto. E agora se torna claro todo o apoio internacional, do mercado digital, da propaganda digital, a Bolsonaro. É uma conjunção de trabalho militar e econômico internacional, duas novas forças que atuam no continente. Os militares com políticas de contrainsurgência psicossociais: não são armas, são fake news, ferramentas bem treinadas por serviços de inteligência da Inglaterra e Estados Unidos ao longo dos tempos", afirmou o sociológo, um dos mais citados em obras acadêmicas de todo o mundo.
Para ele, uma hipotética vitória de Bolsonaro dará um poder enorma à extrema-direita em todo o mundo. "A Itália será o primeiro alvo desta política de extrema-direita, que segue também com a Hungria e a Polônia. Se os democratas brasileiros conseguirem vencer esta corrente antidemocrática de extrema-direita, será um sinal muito poderoso para todo o continente de que esta gente não é invencível, e de que a internet não faz tudo".
De acordo com Boaventura, as eleições presidenciais têm uma dimensão que vai muito além do Brasil. "É uma situação muito dramática, porque neste momento, no Brasil, se joga o destino da democracia no continente, e no mundo de alguma maneira".
Ele acredita ainda que, eleito, Bolsonaro será ainda pior do que os discursos que ele realiza. "se Bolsonaro vencer será ainda pior do que diz, porque as medidas serão brutais e haverá resistência popular. E como existirá resistência, os militares já estão dizendo que é preciso manter a paz no país, e manter a paz para eles é reprimir. Bom, de fato, a repressão já está nas ruas".
Em relação à economia, um tema que, segundo ele, foi abafado pelo discurso "anticorrupção" da grande mídia, Boaventura acredita que o sistema financeiro já esteja se articulando para implantar medidas que devem sufocar ainda mais a vida das pessoas.
"É muito preocupante porque para os mercados financeiros não interessa que Bolsonaro seja racista, sexista ou homofóbico, porque o que querem é ver como irá regular a economia. Sempre com a ideia de que quando começar a crescer a economia, tudo será melhor. Como fizeram de fato com a Argentina, que agora está sob o comando do Fundo Monetário Internacional (FMI)".
Leia a entrevista completa.