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Pelos resultados obtidos via boca de urna até agora, trata-se de uma vitória amarga de Merkel e que certamente trará mais contradições e dificuldades no novo governo. Entenda
Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum de Jornalismo
Conforme indicamos há uma semana atrás, a "Era Merkel" parece ter ganhado um tempo extra. Aqueles que acreditavam que essa eleição marcaria o fim de seu mandato, se enganaram.
Apesar da vitória, as pesquisas de boca de urna demonstram que os democratas-cristãos (CDU/CSU), liderados por Angela Merkel, perderão quase 10% de seus votos em comparação com sua eleição em 2013, demonstrando um franco desgaste da líder.
Neste sentido, trata-se de uma vitória amarga, que certamente trará mais contradições e dificuldades para o novo governo da Primeira-Ministra alemã, que está em seu quarto mandato. Ao que tudo indica, a união CDU/CSU terá cerca 32% dos votos válidos, um resultado que força necessariamente a formação de uma coalizão com outros partidos.
A primeira opção, cada vez mais improvável, seria com os tradicionais parceiros de centro-esquerda, os social-democratas do SPD. A segunda opção, com os verdes (Grüne) e os liberais (FDP), que devem garantir assentos no parlamento, ultrapassando a marca mínima de 5% dos votos.
Mas, por quê a reedição da aliança com o SPD parece improvável? A princípio, mesmo com um prognóstico "menos negativo", perdendo cerca de 5% dos votos em relação a 2013, o partido liderado por Martin Schulz parece ter entrado em uma verdadeira crise de identidade.
Muitos políticos e analistas avaliam que o SPD descolou-se de sua base histórica e teve dificuldades de apresentar-se como oposição, dado que foi o principal aliado governista na última década. Desse modo, muitos avaliam que o partido necessita de uma inflexão se quiser voltar a liderar o governo no futuro. Ainda como 2ª força política, o SPD deve atingir aproximadamente 20% dos votos. Número significativo para fazer uma oposição duríssima.
Por outro lado, os grandes vitoriosos desta eleição devem ser os extremistas de direita, do Alternativa para Alemanha (AfD). Com seu discurso nacionalista e anti-imigração, o jovem partido deve atingir cerca de 13% dos votos, sendo o primeiro com esse perfil a entrar no parlamento federal desde 1945.
Recém-criado, o AfD não atingiu os 5% mínimos para conquistar assentos no parlamento em 2013, "batendo na trave" com 4,7%. Assim, o AfD deve ser o maior vitorioso desta eleição, com um crescimento de aproximadamente 10%.
Esse resultado do AfD é visto como um alerta às elites alemãs. Apesar de isolado e com a maior rejeição entre os partidos, o poder de mobilização do populismo de extrema-direita é temido por todos e deve mudar profundamente o cotidiano da política no país.
Feita a análise dos protagonistas, a briga entre os coadjuvantes e os partidos pequenos traz outro elemento importante para nossa reflexão. A política alemã tradicionalmente hegemonizada pelo revezamento entre CDU/CSU e SPD no pós-guerra acabou. Além dos nacionalistas do AfD (13%), os liberais do FDP (10%) devem voltar a ter assentos no parlamento. Bem como os verdes (Grüne) e a esquerda (Die Linke), com 9%, que conseguirão se manter. Ou seja, um espectro inédito de 6 partidos presentes no parlamento federal.
Enfim, apesar de termos apenas os resultados da boca de urna, as tendências vão se confirmando. Porém, as questões permanecem: Merkel sobreviverá a esse mandato? O CDU/CSU governará com quem? O SPD será oposição? O SPD voltará um dia a liderar o governo? O AfD aprofundará a volta do neonazismo na Alemanha? E os partidos pequenos, estão finalmente consolidados?
*Vinicius Sartorato é sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização, pela Universidade de Kassel (Alemanha)