Escrito en
GLOBAL
el
Em defesa da democracia e do direito de auto-determinação, venezuelanos elegem os membros da Assembleia que promete tirar o país do impasse
Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum de Jornalismo.
Com cerca de 32 milhões de habitantes, a Venezuela vive anos de transformação desde ascensão do chavismo (1999) ao poder. Neste domingo, o país prepara-se para a eleição de 545 membros de uma Assembleia Constituinte – que busca potencializar a Constituição Bolivariana de 1999.
Com o falecimento de Hugo Chavez (2013) e a eleição de Nicolas Maduro (abril de 2013), a chamada Revolução Bolivariana tem encontrado duros testes pelo seu caminho. A queda do preço do petróleo (2014) e a crescente ofensiva da oposição, que conquistou maioria no parlamento (dezembro de 2015), conta com o apoio de grande parte do establishment econômico, jurídico, político e midiático nacional e internacional.
Neste sentido, a narrativa desenvolvida é de um governo autoritário, que desrespeita o Estado de Direito, a oposição e teria “assassinado” mais de 100 manifestantes. No plano econômico, o perfil apresentado é de um verdadeiro desastre: alta inflacionária, desvalorização da moeda, desemprego, escassez de alimentos, crescimento da pobreza, violência urbana e emigração em massa.
Mas, até que ponto essas questões são verdadeiras? Até que ponto "a guerra da informação" exagera sobre a realidade concreta? Até que ponto interesses obscuros procuram formar a opinião pública? Longe de achar que a Venezuela é um paraíso – fato que não existe no mundo da política, cabe aos observadores mais atentos e honestos, verificarem esse “quebra-cabeças” com a rigidez necessária.
Seríamos inocentes, se ignorássemos a campanha deliberada contra o governo venezuelano. Entretanto, cair na polarização proposta pode ser uma armadilha. As estruturas da sociedade venezuelana, profundamente pautadas pela indústria do petróleo – cerca de 1/3 do PIB, fazem do país, um Estado especial desde a perspectiva geopolítica.
Não podemos descartar cegamente as críticas de organizações como Transparência Internacional, Observatório dos Direitos Humanos, Freedom House, Anistia Internacional, Repórteres sem Fronteiras que apresentam relatórios preocupantes sobre o país, sobre corrupção, perseguição política, direitos humanos, liberdade de expressão e aparelhamento da mídia.
Tampouco, podemos ignorar relatórios da ONU (2016) que apontam melhorias significativas no IDH do país em questões como, combate ao analfabetismo, elevação da escolaridade média, redução da mortalidade infantil, renda média e acesso a moradia.
As ameaças internacionais, da OEA, do Mercosul, dos EUA, da Colômbia, não ajudam em nada. O isolamento do país e o estabelecimento de sanções, não ajuda a população e parece esconder interesses. Será que esses agentes políticos estão interessados em dialogar ou impor posições? A truculência da oposição e suas “guarimbas armadas”, bem como suas negativas sobre diversas tentativas de diálogo, inclusive envolvendo o Papa Bento XVI, demonstram uma má vontade explícita.
Vale lembrar que na Venezuela, desde 1999, o voto é facultativo. Será que os venezuelanos possuem o direito de votar, para sair do impasse? Foi neste sentido, que a Alta-Comissária da ONU para Direitos Humanos, Liz Throssel, expressou nesta sexta-feira, seu desejo que o direito de expressão pacífica e de voto dos venezuelanos seja respeitado.
Também foi neste sentido que o renomado sociólogo português, Boaventura Sousa Santos, escreveu ontem, 29/7/2017, um artigo intitulado “Em defesa da Venezuela”, lembrando casos desastrosos – e recentes - de intervenção estrangeira mundo afora, como no Iraque, na Líbia e agora na Síria.
Em resumo, longe de subscrever erros do chavismo, não podemos nos deixar levar pela sanha gananciosa e as transloucadas insurreições capitaneadas por “interesseiros de plantão”. As respostas para os problemas da Venezuela devem ser dadas pelos venezuelanos – de forma democrática e pacífica.
*Vinicius Sartorato é sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel – Alemanha).
Foto: Governo da Venezuela