Escrito en
GLOBAL
el
Considerado 'inelegível' por opositores e até por setores do próprio partido, líder trabalhista surpreende e se torna maior vencedor na eleição que deixou a premiê Theresa May sem maioria
Por Opera Mundi
Sob a liderança de Jeremy Corbyn, o Partido Trabalhista britânico aumentou o número de votos recebidos na eleição realizada nesta quinta-feira (08/06) em 9,6% em comparação com a eleição de 2015, quando o líder era Ed Miliband.
Este é o maior avanço do partido entre eleições desde 1945, quando o então líder Clement Attlee comandou um aumento de 10,4% em votos para o partido em relação à eleição anterior, realizada em 1935, se tornando o primeiro premiê trabalhista do Reino Unido a comandar uma maioria do partido no Parlamento. O pleito de 1945 foi o primeiro do pós-guerra.
Além disso, Corbyn ficou perto de alcançar o desempenho de Tony Blair em 2001, quando o então líder dos trabalhistas foi eleito primeiro-ministro. Blair, que é de uma tendência mais centrista, teve 40,7% dos votos naquela eleição, enquanto Corbyn, considerado “inelegível” como premiê britânico por alguns colegas de partido, deve chegar a 40% dos votos no pleito desta quinta, contra 42% dos conservadores.
A título de comparação, o próprio Blair conseguiu 35,2% dos votos em 2005, quando tentou a reeleição; Gordon Brown teve 29% em 2010; Ed Miliband, 30,4% em 2015.
Com uma única cadeira ainda não computada, os trabalhistas têm 261 assentos no Parlamento britânico – 29 a mais do que as que conquistaram na última eleição. Diante do estrondoso revés para o Partido Conservador, que caiu para 318 cadeiras, perdendo 12 assentos e a maioria absoluta no pleito convocado por sua líder, Theresa May, “está bem claro quem ganhou essa eleição”, disse o atual líder trabalhista e da oposição à BBC na manhã desta sexta-feira (09/06).
O resultado eleitoral é ainda mais impressionante pelo fato de que os trabalhistas começaram a campanha com 20 pontos percentuais a menos do que os conservadores, segundo pesquisas de intenção de voto divulgadas em abril, quando May convocou a eleição.
Corbyn se tornou líder do Partido Trabalhista em setembro de 2015, após vencer eleição interna com 59% dos votos. Desde então, ele enfrenta resistência de setores de centro e à direita dentro da legenda, que tentaram inclusive um “golpe” para tirá-lo da liderança no ano passado. Além do fogo amigo, Corbyn é alvo da ferrenha oposição de parte significativa da grande imprensa britânica, que o retratou nos últimos dois meses como “simpatizante do terrorismo”, entre outros impropérios.
Ainda assim, nessa quinta, Corbyn conseguiu conquistar o eleitorado jovem e até pessoas que votaram no ultradireitista Ukip na última eleição. Uma pesquisa de intenção de voto do instituto ICM divulgada no dia anterior ao pleito indicou a preferência de 66% dos eleitores entre 18 e 24 anos por Corbyn, contra 23% para May. Entre aqueles com idade entre 25 e 33 anos, 47% votariam no trabalhista e 33%, na conservadora.
Além disso, pelo menos um terço das pessoas que, em 2015, votaram no ultradireitista Ukip, que conseguiu um redondo zero em cadeiras nessa eleição, também parece ter votado nos trabalhistas nesta quinta, segundo análise do jornal britânico The Guardian. O partido viu sua parcela do voto cair de 15% em 2015 para 2% ontem, e distritos onde haviam sido mais fortes há dois anos deram mais votos aos trabalhistas dessa vez.
"Para os muitos, não para os poucos"
Com o lema de campanha “Para os muitos, não para os poucos”, seu sucesso eleitoral pode ser atribuído ao discurso antiausteridade e às promessas de aumentar os investimentos públicos para fortalecer e universalizar o acesso a saúde e educação. Corbyn também promoveu uma plataforma de justiça fiscal, prometendo aumentar os impostos pagos pelos 5% mais ricos do Reino Unido para financiar os investimentos em serviços públicos.
O Líder da Lealíssima Oposição de Sua Majestade, nome oficial de sua posição no Parlamento britânico, é um autodeclarado socialista cuja formação política se deu nos movimentos antiguerra, antinuclear e ambiental nos anos 1970. Com 68 anos, seu desempenho nessa eleição tem sido comparado com o de Bernie Sanders nas primárias do Partido Democrata nos Estados Unidos. Entre 2015 e 2016, o senador independente por Vermont conquistou os mais jovens, arrastou multidões a comícios e por pouco não tirou a candidatura democrata de Hillary Clinton, tendo como base uma plataforma política muito parecida com a do trabalhista britânico.
Sanders, inclusive, parabenizou Corbyn na manhã dessa sexta por ter realizado “uma campanha muito eficiente”. “Fico muito feliz em ver os trabalhistas se saindo tão bem. Em todo o mundo, as pessoas estão se levantando contra a austeridade e os níveis massivos de desigualdade de renda e de riqueza. As pessoas no Reino Unido, nos EUA e em todos os lugares querem governos que representem toda a população, não apenas o 1%”, afirmou Sanders em seu perfil no Facebook.